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reflexão sobre a primeira leitura da liturgia
deste domingo nos coloca no interior de uma sociedade onde um grupo, formado
pelos nobres da Samaria (governantes, palacianos, chefes políticos e
latifundiários) desfrutava das conquistas militares do rei Jeroboão.
Nesse
ambiente surgiu a fala discordante do Profeta Amós que dizia estarem enganados
os poderosos ao esperarem o Dia de Javé como um dia de glória. O Dia de Javé
será um dia de castigo, culminando com a destruição da própria Samaria e com o
exílio de seus moradores. Ele foi claríssimo ao dizer: “o bando dos gozadores
será desfeito”.
Eis
os motivos: enriquecimento à custa do pobre e “não se preocupar com a ruína do
povo”.
Será
que também não existem pobres que desejariam usufruir dessas benesses e sonham
em ser como um desses ricos? Pessoas vendem seu corpo, sua inteligência para
poderem conviver nesse mundo de privilegiados. Deixam-se corromper para isso.
O
Evangelho nos apresenta a reflexão de Jesus diante desse quadro. Ele usa a
parábola do rico e de Lázaro para nos dar o seu recado. O rico, que nem nome
possui, é descrito como alguém que se veste com luxo, usando roupas importadas,
se banqueteando diariamente e morando em uma mansão.
Do
lado de fora, um sem-teto, Lázaro. Ele via entrar os comensais em traje de
festa. Sentia vontade de comer, queria matar a fome, a sede, mas nada lhe era
dado. Ao contrário, ainda era incomodado pelos cães que lambiam suas feridas.
Era o excluído!
Contudo,
Deus - que optou preferencialmente pelos pobres - ao permitir a morte dos dois,
acolhe Lázaro em sua casa, enquanto o rico continua em seu fechamento, agora
absolutizado pela morte. Neste momento, o nome Lázaro revela seu significado,
Deus ajuda, e de fato Deus o ajudou. Enquanto o rico, sem nome, fica agora
totalmente ignoto, morto, sepultado e desconhecido!
Dentro
da parábola vemos também o resultado, a consequência da atitude surda,
absolutamente insensível do rico. O abismo que ele criou, excluindo o pobre de
toda e qualquer participação nos bens que ele julgava possuir, volta agora
contra ele mesmo. É tão grande que é impossível haver comunicação entre eles.
Pior, a inversão foi drástica. Aquele que sempre esteve saciado suplica por uma
gota d’água e pede que Lázaro faça isso.
Existe
nesse trecho do Evangelho algo que muitas vezes passa despercebido e que não
deveria, porque é importante. Quando Abraão fala com o rico, apesar de se
dirigir a uma pessoa, usa o plural – “... nem os daí poderiam atravessar até
nós.” O rico não está só. Outros o antecederam na ocupação de acumular bens
gananciosamente.
Mas
o rico faz um segundo pedido a Abraão, que salve os irmãos dele, para que não
tenham a mesma sorte. Para isso ele pede a ida de Lázaro à casa deles, para
que, vendo um morto, se convertam. Abraão diz ser inútil isso. Para salvá-los,
já existe Moisés e os profetas. Veladamente aí está que nem a ressurreição de
Jesus irá salvá-los, caso não se abram ao pobre. De fato, quantas pessoas
batizadas vivem uma existência surda e insensível em relação aos excluídos! A
partilha gera vida, o acúmulo, morte!
A única força capaz de mudar o
coração do rico, de ser fechado em si mesmo, é a Palavra de Deus. Ela tem o
poder de abrir os corações!
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