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a liturgia
deste domingo o Senhor dirige-nos palavras de confiança, chama-nos à conversão,
promete o perdão, fala da alegria na casa do Pai, porque o pecador se
arrependeu e voltou ao convívio familiar.
Esta mensagem deve despertar em nós o desejo de nos pormos em paz conosco
próprios, com os outros e sobretudo de nos aproximarmos mais de Deus.
A INFIDELIDADE DOS ISRAELITAS LIBERTADOS DO EGITO
O povo hebreu, depois da sua saída da escravidão do faraó no Egito,
percorreu o deserto numa marcha lenta e muito penosa. As dificuldades dessa
vida errante depressa levaram ao esquecimento de todos os prodígios que o
Senhor havia realizado em seu favor.
Assim, enquanto Moisés se encontra no monte a falar com o Senhor, os
israelitas dão a Aarão as suas joias e, com o ouro reunido e fundido, fazem um
touro e adoram-no. Desviado do reto
caminho o povo depressa pratica a idolatria. A ideia de um Deus único e
indivisível é substituído por um ídolo de fabrico humano. Moisés, alertado para
o facto pela indignação de Deus, ora ao Senhor lembrando a Sua grande bondade:
quanto fizera pelo seu povo e quanto lhe havia prometido. Se o pecado dos
homens é grande, maior é o perdão de Deus.
O PERDÃO, AMOR GRATUITO DE DEUS
O comportamento dos israelitas é a imagem do que fazemos também nós.
Quando escutamos a palavra de Deus, sentimo-nos impelidos a segui-la com
entusiasmo. Mas, passados alguns dias ou até mesmo algumas horas, tudo volta a
ser como antes.
O homem nunca deixa de ser pecador, repete sempre os mesmos pecados, não
se arrepende. Mas não deve desesperar. A única maneira de obter a salvação é
confiar na infinita bondade de Deus, pois o Seu amor nunca será vencido por
nenhuma infidelidade, por maior que esta seja.
A oração de Moisés em favor dos seus irmãos israelitas leva o Senhor a
desistir do castigo com que tinha ameaçado o seu povo.
Assim também nós, não devemos confiar apenas nas nossas forças, na nossa
capacidade de realizar gestos virtuosos, pois teríamos motivos suficientes para
desesperar. Ponhamos então a nossa confiança no amor gratuito de Deus e na sua
misericórdia.
E DA SUA PROFUNDA MISERICÓRDIA
No Evangelho deste domingo escutamos o relato de três parábolas
denominadas «parábolas da misericórdia». Os destinatários destas parábolas são
os fariseus e os escribas que se consideram “justos” perante Deus e são
chamados, por Jesus, à conversão. Estes não compreendem o facto de Jesus
acompanhar e comer com aqueles que eles consideram como pecadores.
Os pecadores, para eles, eram essa “gente perdida”, as moedas, as
ovelhas perdidas, o filho esbanjador e dissoluto que regressa a casa. Agora
estão todos à volta de Jesus. Vivem em casa com Ele, estão a fazer festa, comem
alegremente.
Quem agora necessita de um apelo à conversão não são eles, mas os
“justos”. As noventa e nove ovelhas são os “justos”, são as nove dracmas, o
filho mais velho, que se arriscam a perder a festa. Não compreendendo o que
está a acontecer, são apanhados de surpresa pela nova realidade.
O que Jesus quer fazer compreender é que começou uma festa organizada
para gente indigna, que causa problemas aos “justos”. O comportamento de Jesus,
que acolhe os pecadores e come com eles, revela o rosto de Deus que os fariseus
não podem aceitar: é escandaloso.
O Deus de Jesus é Alguém que salva gratuitamente a todos, é Alguém que
raciocina com o coração; é Alguém que organiza a festa não para quem a julga
merecer, mas para quem está triste, para quem tem fome; é Alguém que «não quer
que se perca nenhum destes pequenos».
Quem é que se deve converter? Os pecadores? Evidentemente. Mas devem
converter-se sobretudo os “justos”. Estes, para além de terem de corrigir a sua
vida (porque todos somos pecadores, sendo difícil definir quem é mais ou
menos pecador), devem corrigir principalmente as suas falsas ideias acerca
de Deus, pois inventam uma “religião dos méritos”. Deus alegra-Se em sentar-Se
à mesa com o pecador.
As duas primeiras parábolas põem em relevo a iniciativa da conversão,
que não parte do homem, mas de Deus. É Ele que vai à procura do que se perdera.
A parábola do chamado “filho pródigo”, que Jesus conta logo a seguir, põe em
relevo o respeito de Deus pela liberdade do homem, pelo que deveríamos antes
chamar-lhe a parábola do “pai misericordioso e compreensivo”. Este pai
misericordioso não força o filho a ficar em casa, mas também não o obriga a
voltar: mas sabe esperar.
S. Paulo, na segunda leitura, sublinha que Deus usou de misericórdia
para com ele que era um blasfemador, um perseguidor e um violento. Se alguém
como ele, inimigo da fé, “o primeiro entre os pecadores” como afirma, obteve
misericórdia, poderá ainda alguém ter medo de que Deus o trate com severidade?
Saibamos, pois, agradecer este amor que o Senhor nos tem, sem
merecimento nosso, e consideremos seriamente este apelo contínuo à conversão.
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