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Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum
repete, com alguma insistência, que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício.
A expressão deve ser entendida no sentido de que, para Deus, o essencial não
são os atos externos de culto ou as declarações de boas intenções, mas sim uma
atitude de adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de
salvação. É esse o tema da liturgia deste dia.
Na
primeira leitura, o profeta Oseias põe em causa a sinceridade de uma comunidade
que procura controlar e manipular Deus, mas não está verdadeiramente
interessada em aderir, com um coração sincero e verdadeiro, à aliança. Os atos
externos de culto – ainda que faustosos e magnificentes – não significam nada,
se não houver amor (quer o amor a Deus, quer o amor ao próximo – que é a outra
face do amor a Deus).
Na
segunda leitura, Paulo apresenta aos cristãos (quer aos que vêm do judaísmo e
estão preocupados com o estrito cumprimento da Lei de Moisés, quer aos que vêm
do paganismo) a única coisa essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar:
aquilo que o tornou um modelo para todos não foram as obras que fez, mas a sua
adesão total, incondicional e plena a Deus e aos seus projetos.
O
Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre a resposta que devemos dar ao Deus
que chama todos os homens, sem excepção. O exemplo de Mateus sugere que o
decisivo, do ponto de vista de Deus, é a resposta pronta ao seu convite para
integrar a comunidade do “Reino”.
O
relato da vocação de Mateus (vers. 9) não é substancialmente distinto do relato
do chamamento de outros discípulos (cf. Mt 4,18-22): em qualquer dos casos
fala-se de homens que estão a trabalhar, a quem Jesus chama e que, deixando
tudo, seguem Jesus. Os “chamados” não são “super-homens”, seres perfeitos e
santos, estranhos ao mundo, pairando acima das nuvens, sem contato com a vida e
com os problemas e dramas dos outros homens e mulheres; mas são pessoas
normais, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram… No
entanto, todos são chamados ao seguimento de Jesus. O verbo “akolouthéô”, aqui
utilizado na forma imperativa, traduz a ação de “ir atrás” e define a atitude
de um discípulo que aceita ligar-se a um “mestre”, escutar as suas lições e
imitar os seus exemplos de vida… É, portanto, isso que Jesus pede a Mateus.
Mateus, sem objecções nem pedidos de esclarecimento, deixa tudo e aceita ser
discípulo. A esta adesão ao chamamento de Deus chama-se “fé”.
Deus chama todos os homens sem excepção. Os que se consideram bons e justos, frequentemente acham que não precisam do dom de Deus, pois eles merecem, pelos seus atos, a salvação; mas a verdade é que a salvação é sempre um dom gratuito de Deus, não merecido pelo homem… O que Deus pede ao homem (seja ele bom ou mau, pecador ou santo, justo ou injusto) é que aceite o dom de Deus, escute o chamamento de Jesus e, sem objeções, com total confiança e disponibilidade, aceite o convite para seguir Jesus, para ser seu discípulo e para integrar a comunidade do “Reino”.
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