domingo, 17 de setembro de 2023

REFLEXÃO LITÚRGICA DO 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 17/09/2023

Dom Carlos Silva - Bispo Auxiliar de São Paulo

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 Tempo Comum, na liturgia, nos permite contemplar o extraordinário no ordinário e nos ensina, a partir da vida de Jesus, um caminho de aprendizado e esperança. E o ensinamento que Ele nos propõe, neste 24º DOMINGO DO TEMPO COMUM, é o exercício do perdão.

As leituras mostram que o ato de perdoar é uma forma de expressar o amor. A primeira leitura, do livro do Eclesiástico, apresenta um ensinamento prático: engana-se quem pensa que a sabedoria está em deixar-se consumir pelos sentimentos de rancor, raiva ou vingança. O autor sagrado destaca que ser sábio é justamente fazer o contrário, isto é, saber perdoar e compadecer-se do próximo. E esse exercício do perdão se relaciona diretamente ao perdão de Deus. Ele se pergunta: “se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura?” (Eclo, 28,3). Pelo contrário, quem perdoa a ofensa alheia, recebe para si o perdão divino. Por isso, como o autor exorta, devemos nos recordar sempre do nosso fim, perseverar nos mandamentos e não nutrir em nosso coração esses sentimentos que nos desumanizam. Nossas relações humanas devem nos conduzir ao que é bom e, certamente, isso passa pelo perdão e pela compaixão. Só assim a confiança no perdão de Deus começará a ser possível, visto que, como descreve o Salmo 102(103), o Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.

No Evangelho, São Mateus dirige o discurso a toda Igreja, aos discípulos de ontem e hoje. A antiga tradição religiosa de Israel ensinava o perdão ao próximo em ocasiões específicas, restrito a alguns casos limitados. Pedro pergunta a Jesus quantas vezes era preciso perdoar o seu irmão, até sete vezes? (Mt, 18,21). Lembrando que, na Bíblia, o número “sete” indica também a totalidade. Cristo vai além do ensinamento da tradição judaica e responde: “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt, 18,22), quer dizer, o perdão precisa ser dado a todos, sem restrição, de modo contínuo e ilimitado. Em seguida, Jesus narra aos discípulos a parábola do patrão e seus empregados para ilustrar como a misericórdia de Deus é infinita. O empregado implora ao patrão e recebe dele o perdão de sua dívida, mas, quando deveria fazer o mesmo com seu próximo, é incapaz de agir com a mesma compaixão que recebeu. Essa atitude indigna o patrão, que alerta ao empregado e a todos nós sobre o verdadeiro exercício da compaixão e da misericórdia, tal como as recebemos infinitamente do nosso Pai.

No entanto, sabemos que, no dia a dia, o ato de perdoar os irmãos e irmãs nem sempre segue a mesma lógica da infinitude e da gratuidade. Muitas vezes, quando somos tomados por sentimentos de ira, rancor, ódio, vingança, afastamo-nos daquilo que Deus espera de nós: ser a expressão de seu amor misericordioso e perdoar nosso próximo infinitamente. O perdão é uma tarefa diária, exige conversão e oxigena nossa vida de fé. No exercício do perdão, tal como Jesus, transformamos nossa condição humana frágil em expressão concreta do amor de Deus, que nos pede sempre abertura ao outro, a bondade, a fraternidade e vida em comunhão. Portanto, que o Senhor nos conceda a graça de perdoar sempre, mesmo aqueles que, por qualquer eventualidade, possam ter nos magoado ou ofendido, pois é somente com o coração perdoado que iremos promover uma cultura de paz, de fraternidade e ser a expressão do amor misericordioso do Pai.

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