família é
imagem de Deus, que “no mais íntimo do seu mistério não é uma solidão, mas uma
família”. Ela carrega uma profunda marca da Trindade.
O próprio Pai convida os esposos
a uma “íntima comunhão de vida e de amor conjugal”, cujo modelo é o amor de
Cristo por sua Igreja, no Espírito Santo que é amor.
Nesse chamado, os esposos, no
seu estado de vida e com a sua família, revelam e, ao mesmo tempo, realizam o
mistério da Igreja.
Essa intimidade de vida e de
amor, que no início da família se manifesta como amor conjugal, completa-se e
aperfeiçoa-se quando se estende aos filhos com a educação.
É dessa riqueza de vida e de
amor que nasce e cresce a família. E do dinamismo da reciprocidade dos esposos
e dos filhos nasce uma pequena comunidade
Nessa pequena comunidade a
família reencontra-se como o primeiro “nós”, no qual cada um é “eu” e “tu”;
cada um é para o outro respectivamente marido ou esposa, pai ou mãe, filho ou
filha, irmão ou irmã, avô ou neto. Enfim, a família é comunidade de pais e
filhos; às vezes, comunidade de diversas gerações.
O Concílio Vaticano II chama a
família nascida do sacramento do Matrimônio uma espécie de “Igreja doméstica” e
“santuário íntimo da Igreja”.
A antiga expressão “Igreja
Doméstica” tem suas origens nos tempos apostólicos, quando o núcleo da Igreja
era em geral constituído por aqueles que, “com toda a sua casa”, se tornaram
cristãos (cf. At 18,8).
Quando eles se convertiam,
desejavam que “toda a sua casa” fosse salva (cf. At 16,31 e 11,14).
Essas famílias que se tornavam cristãs eram verdadeiras presenças e testemunhas
de vida cristã num mundo incrédulo.
Tais famílias eram a Igreja,
como Pio XII iria dizer mais tarde: os fiéis leigos, ou seja, as famílias “são
a Igreja”.
Com o que foi dito acima, em
virtude do sacramento do Matrimônio, pelo qual os cônjuges significam o
mistério de unidade e de fecundo amor entre Cristo e a Igreja, e desse mistério
participam, a família cristã é a menor parcela da Igreja – a Igreja Doméstica.
Esta, como Igreja, gera e defende a vida, sustenta as demais estruturas
eclesiais, cultiva a paternidade, educa as pessoas para a sociedade e a Igreja,
e cultiva as sementes do Reino definitivo.
Aí está à família, como Igreja
Doméstica, aquela que é experiência de quatro relações fundamentais da pessoa
humana e do cristão, e que permite fazer essa experiência de paternidade,
filiação, irmandade e nupcialidade.
São essas mesmas relações que
compõem a vida da Igreja: a experiência de ter um pai e ter Deus como Pai,
experiência de ter irmãos e ter Cristo como irmão, experiência de ter ou ser
filho em, com e pelo Filho e, por fim, experiência de ser esposa e ter Cristo
como esposo. A vida em família reproduz essas quatro experiências fundamentais
e as compartilha em miniatura: são as quatro facetas do amor humano.
No plano do Criador, a família
tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, a comunidade de
vida e de amor. Pois para isso ela foi criada e redimida para alcançar a
plenitude do Reino de Deus. Por isso, cabe à família a missão de revelar e
comunicar o amor e a vida, e deles cuidar, qual reflexo vivo e participação
real do amor de Deus pela humanidade, e do amor de Cristo pela Igreja, sua
esposa.
SANTUÁRIO
DA VIDA
A família, fundamentada e
vivificada pelo amor, é o lugar próprio e o “santuário”, onde cada pessoa é
chamada a experimentar fazer seu aquele amor, e dele participar, sem o qual não
pode viver, e toda a sua vida fica destituída de sentido.
É aí que ela é chamada a viver a
missão de servir à vida. Ela deve ser a servidora da vida. Pois o direito à
vida é a base de todos os direitos humanos. Porque a vida concebida e não nascida é o ser mais pobre, frágil, vulnerável e indefeso, que deve receber
da família toda a proteção.
Este serviço à vida não se reduz
só à procriação, mas é verdadeiro compromisso de transmitir os valores
autenticamente humanos e cristãos à prole e neles educá-la.
Neste sentido, o Criador do
universo quer estar presente na família como Deus do amor e da vida. Ele quer
que a criatura humana tenha a vida e a tenha em abundância, como proclama
Cristo (cf. Jo 10,10); que a tenha, sobretudo graças à família.
Portanto, partindo desse amor e
em permanente referência a ele, a família deve ter sempre em conta os valores
fundamentais que a Doutrina da Igreja atribui às famílias cristãs. Entre esses
valores , apresentamos três, especificamente: a família formadora de pessoas,
educadora na fé, promotora do desenvolvimento:
A missão da família é viver,
crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas que se caracteriza pela
unidade e indissolubilidade.
O Concílio Vaticano afirma que
“a família recebeu de Deus a missão de constituir a célula primária e vital da
sociedade”. Ela é o lugar privilegiado para a realização pessoal junto com os
seres amados.
Aí os pais devem criar um
ambiente de família, que, animado pelo amor, pela piedade para com Deus e para
com os seres humanos, promova uma educação integral, pessoal e social dos
filhos.
Nessa educação deve sobressair
os valores de sua inteligência, vontade, consciência e fraternidade. Como fonte
alimentadora desta educação acha-se em primeiro lugar a própria família.
A família tem a grande missão
de, pela educação, formar nos filhos um profundo sentido da dignidade pessoal e
da liberdade como ser humano.
Pois é dessa consciência da
dignidade da pessoa humana, que o cristão, o cidadão, poderá proclamar os
direitos humanos. Pois tais direitos fundamentais, que a pessoa humana não pode
renunciar anteriores a qualquer norma ou lei positiva, radicados na mesma
dignidade de ser pessoa, têm sua fonte e origem no próprio Deus.
Os esposos cristãos são para si
mesmos, para seus filhos e demais familiares, cooperadores da graça e
testemunhas da fé. São para seus filhos os primeiros pregadores e educadores da
fé. “A família como “Igreja Doméstica”, deve acolher viver, celebrar e anunciar
a Palavra de Deus”.
Nesse sentido, ela é santuário
onde se edifica a santidade, e a partir do qual a Igreja e o mundo podem ser
santificados. Esta é a missão da família. Evangelizar a vida, as pessoas, a
realidade familiar e a sociedade. Esta missão evangelizadora acontece quando os
pais, não somente comunicam o Evangelho aos filhos, mas podem receber deles o
mesmo Evangelho profundamente vivido.
E uma família assim torna-se
evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se
insere. “A evangelização passa necessariamente pela família (...), pois, à
medida que a família cristã abraça o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade
evangelizadora”. Pois é na família que “se forja o futuro da humanidade e se
concretiza a fronteira decisiva da nova Evangelização”.
A família é a primeira e vital
célula da sociedade. O Concílio Vaticano II apresenta a família como a primeira
escola das virtudes sociais necessárias às demais sociedades. Nela os filhos
fazem a primeira experiência de uma sã sociedade humana. É por ela que os
filhos vão sendo introduzidos aos poucos na sociedade civil e na Igreja.
Por sua natureza e vocação, ela
deve ser promotora do desenvolvimento e protagonista de uma autêntica política
familiar. Portanto, na família cristã, como Igreja Doméstica, os esposos se
tornam cocriadores com Deus no que existe de mais nobre na criação: O Homem.
Conforme o desígnio de Deus, a
família é a primeira escola do ser humano em seus vários aspectos. Nela é
afirmada a dignidade da pessoa humana.
Por isso, o bem-estar da pessoa
e da sociedade humana está ligado estreitamente a uma situação favorável da
comunidade conjugal familiar, pois esse bem-estar é um fator importantíssimo no
desenvolvimento.
No plano cristão e social, a
família exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da
mãe, dos filhos, de todos os membros da família, pela vivência dos sacramentos,
pelo testemunho de uma vida santa e pela caridade.
O lar é em certo sentido a
primeira escola de enriquecimento humano. É aí que se aprende a fadiga e a
alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso, e, sobretudo o culto
divino pela oração e oferenda da vida.
Por outras palavras, a
convivência cotidiana em família é o espaço primeiro para viver esta
espiritualidade, procurando confrontar a própria vida com a vida e as opções de
Jesus de Nazaré, que “passou fazendo o bem” (At 10,38), numa atitude de
total abertura ao Pai e aos irmãos.
Embebida nessa profunda comunhão
com Cristo e com o Pai, e com os irmãos, a família passa a ser a promotora do
respeito à dignidade e às diferenças das pessoas, passa a ser a formadora das
pessoas, a educadora da fé e a promotora do desenvolvimento humano.