sábado, 9 de novembro de 2024

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA O 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 10/11/2024

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

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 primeira leitura, tirada do Primeiro Livro dos Reis, nos relata um fato ocorrido quando em Israel sobreveio uma grande seca . O Profeta Elias chegou a Sarepta e com fome e sede, pediu a uma viúva que encontrou na entrada da cidade, água e pão. A pobre mulher disse que o que ela possuía era o fim das reservas e que após se alimentarem, ela e seu filho aguardariam a morte. Elias disse que não se preocupasse e que o alimentasse primeiro, pois ela deveria confiar na promessa de Deus, de que nada faltará. Ela acreditou e fez como o profeta mandou. O relato concluiu informando que, de fato, nada faltou durante todo aquele estio.

Deus tem compaixão dos pobres e, mais que com alimento, Deus abençoou a viúva com a fé em sua palavra. A viúva, representando os fiéis pobres, mostrou que o pobre espera tudo de Deus e não partilha o supérfluo, porque não o tem, mas partilha o indispensável, o essencial para sua subsistência.

O Evangelho nos fala de outra viúva pobre. É aquela que mereceu um elogio de Jesus, quando depositou no cofre do Templo sua oferta. Recordemos o fato: o Senhor estava com seus discípulos no Templo e observavam as pessoas. A atenção deles foi chamada por pessoas bem-vestidas depositando grandes quantias no cofre. Por outro lado, também não ficou despercebida, exatamente por causa do contraste, a oferta da viúva, que humilde, depositou duas pequenas moedas que não valiam quase nada.     

Nesse momento Jesus, levou-os a refletir sobre o que viam e observavam. Disse o Senhor: “Em verdade vos digo, esta viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.

Deus não olha a quantia, Ele não precisa disso, é Deus! Ele olha a generosidade, aquilo que nos torna semelhantes a Ele, a Jesus e aos santos. Discípulo do Senhor é quem vive a generosidade, quem renuncia a tudo, para segui-lo.

Se quisermos viver a santidade verdadeira, será necessário que o imitemos, que “sendo rico, se fez pobre”, como nos ensina São Paulo na 2ª Carta aos Coríntios.

A segunda leitura nos ajuda no esclarecimento dessa generosidade, até onde ela nos leva: “uma vez por todas, ele (Jesus) se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” Cristo não nos deu tudo que possuía, mas foi além, dando-nos a si próprio.

Uma frase escrita pelo padre Leonel Franca, o jesuíta fundador da Universidade Católica do Rio de Janeiro, conclui nossa reflexão: “Com o Absoluto não se regateia, quem não deu tudo, não deu nada. O sacrifício deve ser holocausto!

 

Mensagem do dia... 09/11/2024

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

SENTIDO DO DESAPEGO

 
Dom Paulo Mendes Peixoto - 
Arcebispo de Uberaba (MG)

 A palavra “desapego” constitui uma temática provocante no contexto da cultura moderna, nesse atual tempo histórico, marcado profundamente pelo capitalismo liberal. A via econômica de hoje favorece o crescimento da desigualdade e discrepância na qualidade de vida das pessoas. Pode-se até dizer que, quanto mais tem, mais quer ter. O ter abafa o ser e deixa muita gente marcada pela pobreza. 

A superação dessa realidade depende muito do processo de desapego, principalmente de uma riqueza acumulada de forma inútil, porque a pessoa não terá como consumi-la em seu tempo de vida. Por que não exercer o bonito exercício da partilha, que expressa desapego, aplicando um pouco em obras sociais? É justamente nesses gestos fraternos de partilha que está a grandeza da pessoa. 

O desapego é uma virtude sábia e louvável, que pode trazer paz, alegria e contentamento para a pessoa, isto é, uma vida feliz. Entender a sabedoria divina significa lidar com os descompassos da história, com aqueles que ocasionam prática de coisas passageiras incapazes de projetar uma eternidade saudável. Nos ensinamentos do Evangelho isto está muito claro, porque Jesus incentiva o desapego. 

Toda prática de desapego vem das intenções interiores do coração humano. Portanto, é uma virtude que começa em Deus, porque Ele está justamente no coração das pessoas. Dizendo isto podemos entender que o desapego significa fazer a vontade divina. A Palavra da Sagrada Escritura atinge e sensibiliza com profundidade a razão humana e provoca a sensibilidade do coração para o desapego. 

No Evangelho Jesus apresenta, a um jovem, uma questão emblemática e radical: “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e segue-me” (Mc 10,21). Significa relativizar todas as coisas na terra para acolher o Reino de Deus. Nas guerras sentimos uma profunda insensibilidade em relação ao valor sagrado da pessoa humana. Há uma inversão de valores, privilegiando o egoísmo individual e vazio. 

    Não é fácil entender e colocar em prática o olhar amoroso e exigente de Deus, de compartilhar o estilo próprio de vida de Jesus, desapegado dos bens materiais. A riqueza material não consegue fazer a pessoa feliz e pode incapacitá-la para seguir o caminho de Jesus. É famosa a frase de Jesus: “É mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que um rico se salvar” (Mc 10,25).

Mensagem do dia... 06/11/2024



domingo, 3 de novembro de 2024

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 

Os Santos e as Santas - autênticos amigos de Deus - aos quais a Igreja nos convida, hoje, a dirigir nossos olhares, são homens e mulheres, que se deixaram atrair pela proposta divina, aceitando percorrer o caminho das Bem-aventuranças.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

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o final do século II, já era grande a veneração dos Santos. No início, os santos mártires, aos quais os Apóstolos foram logo assimilados, eram testemunhas oficiais da fé.

Depois das grandes perseguições do Império Romano, homens e mulheres, que viveram a vida cristã, de modo belo e heroico, começaram a tornar-se, paulatinamente, exemplos de veneração: o primeiro santo, não mártir, foi São Martinho de Tours.

Em fins do ano mil, diante do incontrolado desenvolvimento da veneração dos santos e do "comércio" em torno das suas relíquias, iniciou-se um processo de canonização, até se chegar à comprovação dos milagres.

A Solenidade de Todos os Santos começou no Oriente, no século IV. Depois, difundiu-se em datas diferentes. Em Roma, dia 13 de maio; na Inglaterra e Irlanda, a partir do século VIII, dia 1º de novembro, uma data que também foi adotada em Roma, a partir do século IX.

Esta Solenidade era celebrada no fim do Ano litúrgico, quando a Igreja mantinha seu olhar fixo ao término da vida terrena, pensando naqueles que haviam atravessado as portas do Céu.

O Evangelho deste domingo é o Evangelho das bem-aventuranças “Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então, abriu a boca e lhes ensinava”.

Os Santos e as Santas - autênticos amigos de Deus - aos quais a Igreja nos convida, hoje, a dirigir nossos olhares, são homens e mulheres, que se deixaram atrair pela proposta divina, aceitando percorrer o caminho das Bem-aventuranças; não porque sejam melhores ou mais intrépidos que nós, mas, simplesmente, porque "sabiam" que todos nós somos filhos de Deus e assim viveram; sentiram-se “pecadores perdoados”... Eis os verdadeiros de Santos! Eles aprenderam a conhecer-se, a canalizar suas forças para Deus, para si e para os outros, sabendo confiar sempre, nas suas fragilidades, na Misericórdia divina.

Hoje, os Santos nos animam a apontar para o alto, a olhar para longe, para a meta e o prêmio que nos aguardam; exortam-nos a não nos resignar diante das dificuldades da vida diária, pois a vida não só tem fim, mas, sobretudo, tem uma finalidade: a comunhão eterna com Deus.

Com esta Solenidade, a Igreja nos propõe os Santos, amigos de Deus e exemplos de uma vida feliz, que nos acompanham e intercedem por nós; eles nos estimulam a viver com maior intensidade esta última etapa do Ano litúrgico, sinal e símbolo do caminho da nossa vida.

CONDIÇÕES EVANGÉLICAS

Trata-se de percorrer o caminho, ou melhor, as nove condições traçadas por Jesus e indicadas no Evangelho: as Bem-aventuranças!

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus...”: o ponto forte não é tanto ser “bem-aventurado”, mas o “porquê”. Uma pessoa não é "bem-aventurada" porque é "pobre", mas porque, como pobre, tem a condição privilegiada de entrar no Reino dos Céus.

A mesma coisa acontece com as outras oito condições: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem... Alegrai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos Céus”.

A explicação de tudo encontra-se naquele “porquê”, pois revela onde os mansos encontrarão confiança, onde os pacíficos encontrarão alegria... Logo, "bem-aventurados", não deve ser entendido como uma simples emoção, se bem que importante, mas como um auspício para se reerguer, não desanimar, não desistir e seguir em frente... pois Deus está conosco.

A questão, portanto, consiste em ver Deus, estar da sua parte, ser objeto das suas atenções; contemplar Deus, não no paraíso, mas, aqui e agora.

Enfim, eis o caminho que devemos percorrer para participar também da alegria indicada pelo Apocalipse, que todos nós podemos conseguir: "Caríssimos, considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato... desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser" ”(1 Jo 3,1-2). Nós, diz o refrão do Salmo, em resposta à primeira leitura da Carta de João: “Somos a geração que busca a face do Senhor”. Não porque somos melhores que os outros, mas porque Deus quis assim.

Mensagem do dia... 03/11/2024


sábado, 2 de novembro de 2024

COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS

 

"Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6,37-40).

Vatican News

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o século II, há indícios de que os cristãos rezavam e celebravam a Eucaristia pelos seus defuntos. No início, eram recordados no terceiro dia do enterro e, depois, no aniversário de morte. A seguir, no 7º e 30º dia. Tudo começou, porém, no ano 998, quando o Abade Odilo, de Cluny (994-1048), exigiu que o então chamado “Dia de todas as almas”, hoje Dia de Finados, fosse celebrado em 2 de novembro, em todos os mosteiros sob a sua jurisdição. Em 1915, Bento XV concedeu a faculdade a todos os sacerdotes de celebrar várias Missas neste dia, desde que a intenção fosse feita apenas em uma Missa. Hoje, a liturgia propõe várias Missas, nesta data, a fim de ressaltar o mistério pascal, a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte.

TEXTO (extraído da primeira Missa):

«Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora. Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6,37-40).

A VONTADE DE DEUS

A mensagem revolucionária é que “todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei...”. Sabemos, por experiência, que o corpo se decompõe: mas o corpo não representa todo o homem! O homem, como pessoa, é parceiro do diálogo com Deus, que não o deixa cair, não o esquece, porque Deus é fiel às suas promessas. Deus escreveu cada um de nós na palma da sua mão e não se esquecido de ninguém, porque Ele é o Pai. Eis o ponto central da mensagem que Jesus nos deixou. Por esta verdade, Jesus fez-se homem, morreu na cruz e ressuscitou, para fazer-nos partícipes da alegria da ressurreição: "Dai-lhes, Senhor, e a todos os que descansam em Cristo, a beatitude, a luz e a paz", rezamos no cânone I da Missa, no momento de recordar os fiéis defuntos.

DEIXAR-SE SURPREENDER

É claro que sobreviveremos, disse Jesus! Porém, como isso acontecerá não sabemos, podemos apenas intuir, mediante a escuta da Palavra evangélica. No entanto, permanece a esperança de poder-nos surpreender com a bondade de Deus, com a sua misericórdia. Temos os nossos parâmetros, para medir os acontecimentos da vida, mas devemos deixar a Deus os seus parâmetros, que não são os nossos: será precisamente este que nos surpreenderá, quando cruzarmos a Porta do Paraíso.

UM PASSO A MAIS

Morrer não é desaparecer, mas viver de modo novo. É saber que, os que nos precederam, deram um "passo a mais" no caminho da vida; atingiram o cume, enquanto nós ainda estamos percorrendo as sendas da vida; ultrapassaram a curva da vida, enquanto ainda estamos ao longo do retilíneo. Por isso, a morte não é o fim de tudo, mas o início de uma vida nova, para a qual nos encaminhamos e nos preparamos desde o início.

Logo, a Comemoração dos Fiéis Defuntos não é apenas uma “recordação” dos que não estão mais presentes entre nós, fisicamente, mas uma ponte, que nos aguarda no fim da vida, que nos conduzirá à outra margem, à qual todos nós somos destinados; é um meio para não nos deixarmos afogar por tantas mágoas, esquecendo que tudo passa, mas Deus permanece.

IRMÃ MORTE

São Francisco de Assis, após ter-se reconciliado com Deus, consigo mesmo e com a criação, no final da sua vida conseguiu reconciliar-se até com a morte, tanto que passou a chamá-la "irmã", sinal que, também para ele, se tratava de um mistério a ser compreendido e aceito. Ao contrário da sociedade de hoje, que tenta, com todos os meios, ocultar a realidade da morte, iludindo-se ser eterna, São Francisco nos ensina a encará-la, compreendê-la, a considerá-la uma "irmã", uma parte de nós. No fundo, é um acontecimento real e existente: é um ato de honestidade intelectual, antes de ser espiritual. O medo, diante da “irmã morte”, certamente, é ditado pela ignorância, por não saber o que está além da “porta”. Por isso, suscita certo desconforto. Depois, é inútil esconder que tememos o “peso” das nossas ações, pois, no final das contas, todos acreditam, em seus corações e, no fim da vida, nos perguntaremos como vivemos. Esta experiência leva-nos a rezar pelos que nos precederam, quase querendo ajudá-los e protegê-los, ao invés de pedir sua ajuda e proteção.

Uma coisa é certa: vemos a morte à luz da ressurreição de Jesus. Eis a nossa força e serenidade. Ele nos abriu o Caminho que conduz, com a Verdade, à Vida. O próprio Jesus recordou-nos que somos feitos para a eternidade: mil anos para nós são como um sopro diante de Deus; este tempo tão curto e passageiro da vida, não tem sentido se não for projetado para uma experiência mais verdadeira, como o próprio Jesus disse: “Quem vê o Filho e nele crê terá a vida eterna”.

Enfim, uma última coisa: Jesus fez-se o homem para nos ajudar a viver "por Deus"; ele morreu, foi sepultado e desceu ao ínfero para que ninguém se sentisse excluído da sua ação salvadora. Para que eu não tenha medo e não me sinta só e abandonado, à mercê dos meus temores, Jesus quis "viver" todos os lugares, até nos mais baixos, para me fazer “companhia" naquele momento. Não há “espaço”, na vida e na morte, que ele não tenha visitado. Isso me dá a certeza de que ele vai me receber, de braços abertos, em qualquer situação em que me “encontrar”: tanto hoje, no pecado, quanto amanhã, na morte, Ele sempre estará ao meu lado. Porque Ele venceu o pecado e a morte e me preparou um lugar na Casa do Pai. Isto me é suficiente para percorrer o caminho da vida, com confiança e esperança: "Mesmo se eu tivesse que caminhar em um vale escuro" (Sl 23), Ele estará sempre comigo!

Mensagem do dia... 02/11/2024