quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CORREIO MFC BRASIL Nº 297



A PARTÍCULA
DE DEUS E NÓS
Marcelo Barros
Monge Beneditino e Escritor

Deu nos jornais: os cientistas descobriram e isolaram "a partícula de Deus”. Muita gente se pergunta se se trata de alguma prova concreta da existência do Espírito Divino. Outros, com mais malícia, desconfiam que a ciência tenha conseguido captar Deus em seus laboratórios e os segredos divinos são agora posse da ciência.
  
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e fato, físicos da Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (CERN), centro internacional de física na Suíça, anunciaram a descoberta do bóson de Higgs, partícula subatômica que eles procuravam há décadas e agora parecem ter encontrado. Chama-se de Higgs, em homenagem a Peter Higgs que, em 1964, tinha vislumbrado a sua existência e posto a ciência à sua busca. Tantos anos depois, no acelerador de partículas do CERN, a maior máquina já criada na história da humanidade, ao provocar trilhões de colisões de prótons em uma velocidade espantosa, os programas de computador analisam as partículas que se desintegram da massa. Assim, descobriram o que pode ser o bóson de Higgs. O apelido de "partícula de Deus” vem duma coincidência e de uma estratégia comercial. Com todas as dificuldades e mistérios que a cercam, um dos cientistas que escreveu sobre ela, a chamou, em inglês, "a maldita partícula de Deus”. Simplesmente por ela dar massa a todas as outras. Por isso, o nome pegou.

Desde antigamente, homens e mulheres se consagram à investigação dos mistérios da natureza e vivem isso como uma busca espiritual. Muitos não pertencem, nem aderem a nenhum credo específico. Mas, pensam que ao descobrir os meandros da física e compreender melhor o funcionamento do universo, penetram ao menos um pouco no próprio pensamento divino, ou seja, no modo como Deus concebeu sua criação. Atualmente, na busca pelos segredos da natureza, muitos cientistas desenvolvem uma dimensão espiritual. O próprio Einstein chamou isso de "mistério cósmico profundo”. No mundo inteiro, fazem sucesso os livros de Fritjof Capra, físico que liga ciência e espiritualidade holística.

Para quem crê em Deus, quanto mais a ciência avança e se aprofunda nas descobertas do mistério da vida humana e do universo, mais nos abrimos ao mistério que nos envolve e nos revela a nossa vocação de amor e de cuidado. Nos anos 80, o filme "Contatos imediatos do 3º grau” tinha em seu cartaz a afirmação: "Não estamos sós!”.

O físico e cientista brasileiro Marcelo Gleiser afirma não o contrário, mas algo diverso: "Mesmo se a vida complexa existir no cosmo – e não podemos afirmar que não exista– está tão distante daqui que, na prática, estamos sós e temos a habilidade de pensar. Somos raros e preciosos. Somos como o universo reflete sobre si mesmo. Portanto, (...) temos de adotar uma nova ética que nos eleve acima da moralidade tribal que vem dominando a história da civilização por milênios. Precisamos preservar a vida a todo custo, transformando-nos nos guardiões desse mundo”.

Se acreditamos que Deus é amor, não podemos aceitar que ele tenha ciúme da humanidade e veja o progresso da ciência como concorrência com sua função de criador. Isso seria ridículo. A inteligência humana que provoca o desenvolvimento da ciência vem do Espírito Divino.

Diante da afirmação da ciência de que o universo é infinito e em evolução cada vez mais rápida, só podemos dizer como o salmo 19: "Os céus narram a glória de Deus e o universo inteiro testemunha a obra de suas mãos”. Também o salmo 8 celebra a maravilha do universo e pergunta "Diante disso tudo, o que é o ser humano, para que o trates com tanto carinho?”. E conclui com uma afirmação que deve ser nossa atitude para com a ciência e todos os mistérios do cosmos: cada pessoa tem a missão de ser como quem zela com amor e carinho por toda a criação divina.

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