sexta-feira, 30 de maio de 2014

CONTRIBUIÇÕES PARA O ELAJO

Jorge Leão
SENJOV e MFC-MA

O
 Movimento Familiar Cristão reúne em torno de si uma missão profética de levar o evangelho às famílias, em seu contexto vivido diante das injustiças, violação dos direitos humanos e exclusão social, que ameaçam a vida em toda a sua extensão.

Sobre a atuação com os jovens, o Brasil está caminhando para um trabalho de maior envolvimento com os grupos existentes. O crescimento e o maior compromisso em assumir esta causa tem possibilitado um diálogo mais estreito entre os diversos grupos existentes no MFC. Ainda precisamos, entretanto, avançar a nucleação, sobretudo em realidades de difícil acesso.

O contexto sócio-político-econômico em que vivemos atualmente envolve muitos desafios, dentre eles como atuar de modo transformador em um estado de grave crise global de valores éticos e culturais. Este constitui o grande desafio do caminhar dos jovens em seu protagonismo eminente. A economia de mercado, voltada para o enriquecimento das grandes corporações transnacionais, traz como impacto sócio-ambiental uma lastimável condição de agressões globais e aumento da miséria e do desemprego, fabricados sobretudo pela máquina de exclusão social que se constitui o processo de mundialização do capitalismo. Como afirma Santos (2002, p. 23): "a globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista".

Diante deste panorama, como colocar-se a partir da máxima evangélica: "Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância" (Jo 10, 10)? Em nossas comunidades, como é possível observar a negação da vida? E os processos de afirmação? Falar em protagonismo da juventude implica, pois, em assumir a missão de anunciar a vida e denunciar o mecanismo de empobrecimento a que estão sujeitas as famílias latino-americanas, assim também como em outras regiões do globo, que sofrem o mesmo processo de massacre econômico.

Devemos lutar por um mundo justo, e tal decisão nos exige renunciar a todo fator desagregador da vida plena, como a busca exacerbada pelo ter, o consumismo, a violência no campo e nas cidades e a exploração do trabalho humano pela máquina capitalista. Segundo Boff (1995, p. 15), "o modelo de sociedade e o sentido de vida que os seres humanos projetaram para si, pelo menos nos últimos 400 anos, estão em crise". Diante deste diagnóstico, trata-se de levantar com urgência a causa preferencial por aqueles que permanecem excluídos, sem voz e vez, diante de um projeto cujo único empenho tem sido o acúmulo de bens materiais nas mãos de aproximadamente 20% da população mundial, enquanto os outros 80% permanecem fora do processo de repartição desigual da riqueza produzida. A frase memorável de Gandhi nunca esteve tão atual: "a terra é suficiente para todos, mas não para a voracidade dos consumistas".

Os compromissos que devemos assumir se alicerçam no fundamento evangélico do amor: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15, 12). Desse modo, o primeiro passo deve ser estar em sintonia com o mandamento incondicional do amor, pois, de maneira irrestrita, ele abraça a todos e a todas de maneira única, não fazendo distinção de etnia, credo, sexo, condição social, ideologia etc. O desafio da "centralidade do amor" (Boff, 2003, p. 105), nos lança para a perspectiva do encontro, como princípio fundamental de nossa ação comunitária. Vale ressaltar a reflexão do filósofo contemporâneo Hans Jonas: "age de tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana".

Por consequência, julgar a realidade à luz do evangelho significa acolher e abraçar o diferente, como proclama a parábola do bom samaritano (Cf. Lc 10, 29-37). O pilar de toda ética é o movimento da liberdade humana no mundo. Somos livres para decidir que rumo tomar. O que justifica o samaritano não é sua condição enquanto próximo do homem caído, mas vê-lo como seu semelhante. Este é o risco de assumir a causa do empobrecido, caído, marginalizado, esquecido, discriminado. Acolher o outro como ele é, não como nós projetamos que ele seja.

Ser jovem missionário é por isso compreender o porquê de sua missão no mundo. Como Jeremias (Cf. Jr 1, 4-12), sentir-se chamado é abraçar a voz do alto como projeto de mudança pessoal e cósmica. A caminhada impõe da vida a via da adesão. A força do amor constitui o alimento diário, por isso vale a pena entregar-se ao chamado de Deus.

Se queremos ver um mundo transformado pelo amor, é preciso que nos lancemos ao projeto de Deus, que é a implantação de uma nova terra, alimentada pelo sonho do pão partilhado, fruto da justiça. Esta opção traz consequências ao nosso caminho. Corresponde à utopia de Isaías (Cf. Is 65, 25), em que "o lobo e o cordeiro pastarão juntos".

O mundo materialista em que vivemos não aceita este caminho. De um mundo amparado pela hipertrofia do individualismo, somente a revolução do amor reverterá a situação em que nos encontramos, pois não é projeto de Deus o sofrimento de seus filhos, causado pelos males da concentração de riqueza nas mãos de poucos. O egoísmo está na raiz do pecado social de que é vítima grande parte da humanidade no mundo de hoje.

Por isso, nosso compromisso é assumir a causa da justiça. Sem ela, qualquer movimento, inclusive a caminha das igrejas e do MFC, perdem seu sentido maior de ser no mundo. Na história, com o povo em comunhão, o processo da justiça passa a ser uma realidade. Tal utopia, como bem nos lembra Boff (1999, p. 82): "[..] deve realizar-se num processo histórico que tente dar corpo ao sonho e construir passo a passo os mil passos que o caminho exige".

Bibliografia consultada:
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
BOFF, Leonardo. Princípio-Terra: a volta à Terra como Pátria Comum. São Paulo: Ática, 1995.
______. Saber Cuidar: Ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
______. Ethos Mundial - um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.


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