Card. Odilo P. Scherer |
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São
Paulo - SP
E
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u não queria escrever sobre este assunto; mas
diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã,
durante a parada gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em
defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas e
símbolos de sua devoção ultrajados.
Ficamos entristecidos, quando vemos usados
com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a
moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias
romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e
personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para
associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um
mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15
séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta
identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele
preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a
dignidade de cristão e filho de Deus!?
Nem santo salva do vírus da AIDS. Pois é verdade. O
que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja
defende e recomenda a todos. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares
é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também aos
sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos
e imagens de sua fé. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da
Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – amai-vos uns aos outros –
como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de amor;
o mandamento
novo foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao
ensinamento do próprio Jesus.
A Igreja católica também refuta a acusação de
homofóbica. Investiguem-se os fatos
de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos
religiosos católicos. A Igreja católica desaprova a violência contra quem quer
que seja; não apóia, não incentiva e não justifica a violência contra
homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, ela foi pioneira no
acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais;
muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito.
Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. No
entanto, ela ensina e defende que a melhor prevenção contra as doenças
sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.
Quem apela para a Constituição Nacional para
afirmar e defender seus próprios direitos, não deve esquecer que a mesma
Constituição prevê o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e
organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender
a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa
diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às
organizações religiosas, símbolos e textos sagrados é a contrapartida que se
requer.
A Igreja católica tem suas convicções e fala
delas abertamente, usando do direito à liberdade de pensamento e de expressão.
Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las
com compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra
a natureza; esta não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma
ainda que a sexualidade não depende de opção, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado
próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo
homem e pela mulher.
Causa preocupação a crescente ambiguidade e
confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura.
Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma
séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão
de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a
identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o
desrespeito às leis da natureza biológica introduz nos seres a desordem e o
descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e
compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de
fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à
identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da
condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da
civilização e da humanidade?
As ofensas dirigidas não só à Igreja
católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são
construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para
aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso
que a Igreja católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova
para eles; são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com
dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.
Publicado em O SÃO
PAULO, ed. de 28/06/2011
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