ELEIÇÕES 2018: COMPROMISSO E ESPERANÇA
MENSAGEM DA 56ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB AO POVO BRASILEIRO
“Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer” (Hb 10,23)
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ós,
bispos católicos do Brasil, conscientes de que a Igreja “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI
– Deus Caritas Est, 28), olhamos para a realidade brasileira com o coração
de pastores, preocupados com a defesa integral da vida e da dignidade da pessoa
humana, especialmente dos pobres e excluídos. Do Evangelho nos vem a
consciência de que “todos os cristãos,
incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo
melhor” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183), sinal do Reino de Deus.
Neste
ano eleitoral, o Brasil vive um momento complexo, alimentado por uma aguda crise
que abala fortemente suas estruturas democráticas e compromete a construção do
bem comum, razão da verdadeira política. A atual situação do País exige
discernimento e compromisso de todos os cidadãos e das instituições e
organizações responsáveis pela justiça e pela construção do bem comum.
Ao
abdicarem da ética e da busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se
protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque, ao revelar
raízes cada vez mais alastradas e profundas. Nem mesmo os avanços em seu
combate conseguem convencer a todos de que a corrupção será definitivamente
erradicada. Cresce, por isso, na população, um perigoso descrédito com a
política. A esse respeito, adverte-nos o Papa Francisco que, “muitas vezes, a própria política é
responsável pelo seu descrédito, devido à corrupção e à falta de boas políticas
públicas” (Laudato Sì, 197). De fato, a carência de políticas públicas
consistentes, no país, está na raiz de graves questões sociais, como o aumento
do desemprego e da violência que, no campo e na cidade, vitima milhares de
pessoas, sobretudo, mulheres, pobres, jovens, negros e indígenas.
Além
disso, a perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia
que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos
pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações
exigem soluções urgentes, como a dos presidiários, que clama aos céus e é
causa, em grande parte, das rebeliões que ceifam muitas vidas. Os discursos e
atos de intolerância, de ódio e de violência, tanto nas redes sociais como em
manifestações públicas, revelam uma polarização e uma radicalização que
produzem posturas antidemocráticas, fechadas a toda possibilidade de diálogo e
conciliação.
Nesse
contexto, as eleições de 2018 têm sentido particularmente importante e
promissor.
Elas
devem garantir o fortalecimento da democracia e o exercício da cidadania da
população brasileira. Constituem-se, na atual conjuntura, num passo importante
para que o Brasil reafirme a normalidade democrática, supere a crise
institucional vigente, garanta a independência e a autonomia dos três poderes
constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário – e evite o risco de
judicialização da política e de politização da Justiça. É imperativo assegurar
que as eleições sejam realizadas dentro dos princípios democráticos e éticos
para que se restabeleçam a confiança e a esperança tão abaladas do povo
brasileiro. O bem maior do País, para além de ideologias e interesses
particulares, deve conduzir a consciência e o coração tanto de candidatos,
quanto de eleitores.
Nas
eleições, não se deve abrir mão de princípios éticos e de dispositivos legais,
como o valor e a importância do voto, embora este não esgote o exercício da
cidadania; o compromisso de acompanhar os eleitos e participar efetivamente da
construção de um país justo, ético e igualitário; a lisura do processo
eleitoral, fazendo valer as leis que o regem, particularmente, a Lei 9840/1999
de combate à corrupção eleitoral mediante a compra de votos e o uso da máquina
administrativa, e a Lei 135/2010, conhecida como “Lei da Ficha Limpa”, que torna inelegível quem tenha sido
condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado.
Neste
Ano Nacional do Laicato, com o Papa Francisco, afirmamos que “há necessidade de dirigentes políticos que
vivam com paixão o seu serviço aos povos, (...) solidários com os seus
sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus
interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes poderes
financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a problemas
complexos; que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático; que
conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação” (Mensagem
aos participantes no encontro de políticos católicos – Bogotá, Dezembro-2017).
É
fundamental, portanto, conhecer e avaliar as propostas e a vida dos candidatos,
procurando identificar com clareza os interesses subjacentes a cada
candidatura. A campanha eleitoral torna-se, assim, oportunidade para os
candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir. Não
merecem serem eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que
coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os
que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade.
São igualmente reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro
privilegiado e outras vantagens.
Reafirmamos
que “dos agentes políticos, em cargos
executivos, se exige a conduta ética, nas ações públicas, nos contratos assinados,
nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes econômicos” (CNBB
- Doc. 91, n. 40 – 2010). Dos que forem eleitos para o Parlamento espera-se
uma ação de fiscalização e legislação que não se limite à simples presença na
bancada de sustentação ou de oposição ao Executivo (cf. CNBB - Doc. 91, n. 40– 2010). As eleições são ocasião para os
eleitores avaliarem os candidatos, sobretudo, os que já exercem mandatos,
aprovando os que honraram o exercício da política e reprovando os que se deixaram
corromper pelo poder político e econômico.
Exortamos
a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de crescimento,
abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do desencanto.
Incentivamos
as comunidades eclesiais a assumirem, à luz do Evangelho, a dimensão política da
fé, a serviço do Reino de Deus. Sem tirar os pés do duro chão da realidade,
somos movidos pela esperança, que nos compromete com a superação de tudo o que
aflige o povo. Alertamos para o cuidado com fake news, já presentes nesse
período pré-eleitoral, com tendência a se proliferarem, em ocasião das
eleições, causando graves prejuízos à democracia.
O
Senhor “nos conceda mais políticos, que
tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (Papa
Francisco – Evangelii Gaudium, 205).
Nossa Senhora Aparecida,
Padroeira do Brasil, seja nossa fiel intercessora.
Aparecida-SP, 17 de abril de 2018.
Cardeal Sergio da
Rocha
Arcebispo de Brasília – DF
Presidente da CNBB
Dom Murilo Sebastião
Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
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