Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André-SP
L
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endo a
reportagem sobre mulheres benzedeiras que ainda subsistem em nosso meio,
recordei-me de Nhá Chica, hoje já bem conhecida no Brasil após sua beatificação
ocorrida em 4 de maio de 2013.
Viajando
pelo interior de Minas Gerais, cheguei a Baependi. Cidade antiga, encarapitada
na encosta de uma colina, como soe acontecer no mar de morros que é Minas
Gerais. Ali tomei conhecimento da existência de Nhá Chica, nome com o qual
passou a ser conhecida Francisca de Paula de Jesus.
Nasceu
em 1810 em S. João Del Rei, veio para Baependi com dez anos mais um irmão e a
mãe. Morrendo a mãe e tendo o irmão se arrumado, a jovem resolveu seguir o
conselho da mãe: viver para a oração e a caridade. Recusando propostas de casamento,
morou a vida toda em casa modesta que ainda hoje se conserva. Aí dedicou
totalmente a fazer a todos, todo o bem possível.
Devota
de Nossa Senhora da Conceição, viveu vida de oração, baseada na sua grande fé.
Era analfabeta, mas procurou quem pudesse ler-lhe os Evangelhos. Modesta,
virtuosa, foi reconhecida como o anjo da cidade, gozando de apreço e simpatia
de todas as camadas populares. Mulher pobre, mas rica de fé. Fé que agia
através da caridade. Era a mãe dos pobres.
Nhá
Chica, ficou famosa em toda a região. Era procurada por pessoas que lhe pediam
oração ou uma palavra de conforto e esperança, uma bênção. Através dela Deus
operava milagres. Com o passar do tempo vinham pessoas consultá-la. Despida da
ciência das escolas, tinha em alto grau a sabedoria de Deus. Pessoas
instruídas, até mesmo titulares do Império, iam ouvir suas opiniões sempre
ajuizadas.
Um
médico e livre pensador, Dr. Henrique Monat, deixou publicada uma entrevista
que teve com Nhá Chica, segundo ele “uma celebridade em todo o sul de Minas” na
época. Faleceu aos oitenta e dois anos, foi sepultada, depois de cinco dias de
velório com grande afluência do povo, na Capela que havia construído. Esta
capela é hoje o santuário visitado por pessoas do Brasil todo.
Em 1846
a princesa Isabel visitou Baependi e foi protagonista de festividades
esplêndidas. Hoje, nada na cidade lembra este fato, nem mesmo uma placa. No
entanto, a cidade deixa transpirar o suave perfume desta mulher, que os bispos
do sul de Minas propuseram ao Vaticano como candidata aos altares.
Nhá
Chica, era clarividente, deixa-nos o testemunho do valor da oração. Jesus diz
que é necessário orar sempre e que a oração remove montanhas. A oração bem-feita
não só nos aproxima de Deus, mas é fonte de equilíbrio porque nos revela a nós
mesmos.
Deixa-nos
também o testemunho do valor da caridade como realização pessoal. Ao ajudarmos
os outros, podemos concluir que, muito mais ajudamos a nós mesmos. Quem faz o
bem fica cada vez mais bom, ao passo que nem sempre o bem que se faz é
aproveitado pelos outros.
Na
quinta-feira dia 9 aqui em Santo André, a jovem Paula de Freitas Silva, foi
morta com um tiro ao ser assaltada tendo de entregar seu celular. Um crime que nos
mostra a banalidade do mal que existe entre nós, e faz muitos desiludirem de
buscar uma sociedade mais justa e fraterna.
O
exemplo de Nhá-Chica nos mostra que todos podemos fazer alguma coisa, mesmo a
partir da sua pequenez e pobreza, para melhorar este mundo, no qual as sombras
do mal assustam, mas a luz da bondade ilumina e prevalece.
Nhá
Chica é uma mensagem clara de que O MAL
SE VENCE COM O BEM.
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