Pe. Françoá Costa
Diocese de Anápolis-GO
J
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esus,
sabendo que os discípulos “haviam discutido entre si qual deles seria
o maior” (Mc 9,34), lhes dá uma lição de humildade: “Se
alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc
9,35).
A
humildade encontra-se nos fundamentos da vida interior, ou seja, ela está na
raiz de outras virtudes. A humildade remove os obstáculos para que a pessoa
receba as graças de Deus, já que “Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça
aos humildes” (Tg 4,6). A humildade e a fé formam um par maravilhoso: a
primeira remove os obstáculos à graça, entre os quais o orgulho; a segunda
estabelece o primeiro contato com Deus.
A humildade
se funda na verdade e na justiça. Santa Teresa dizia que a humildade é andar em
verdade. A humildade nos dá o conhecimento, cada vez mais profundo, sobre nós
mesmos. Também se funda na justiça porque exige que o ser humano dê a Deus toda
a honra e toda a glória.
Na
prática, humildade não é dizer que não se tem qualidades, quando na verdade se
tem (isso seria hipocrisia); tampouco
se trata de inventar qualidades que não possuímos (isso seria mentira e soberba). Não podemos buscar uma espécie de “humildade
de jogadores de futebol” em entrevistas, mais ou menos assim e com os
clássicos erros de português: “É, nós estamos de parabéns, apesar de nós
não ter feito todos os gol que queria, agente seguimos as orientações do
técnico e joguemo com humildade, e, provamos que com nós ninguém pode…”.
Além de evitar este tipo de humildade, o cristão não pode ser uma pessoa
encolhida: sem ideias próprias, meio covarde, com cara de coitado, um “Jeca
Tatu”.
A
humildade autoriza o filho de Deus a admirar todos os dons, naturais e
sobrenaturais, que recebeu, mas sem atribuir-se a si mesmo o magnífico lenço
pintado que vê em si, pois sabe que o divino Artista é Deus, para quem deve ir
encaminhada toda a glória. Esta virtude também nos ajuda a ver a nossa pequenez
e o quanto somos fracos. Em suma, a humildade é uma disposição da alma que nos
inclina a moderar o apetite da própria excelência, levando-nos a evitar tanto a
hipocrisia quanto a soberba.
A hipocrisia é ridícula! Andar
cabisbaixo, com a cabeça meio torta e negar virtudes que se tem são, no fundo,
características de uma falsa humildade. O curioso é que tais pessoas poderiam
dizer de si mesmas: “eu sou um pobre pecador, não valho nada, sou um orgulhoso. Que Deus
tenha pena de mim!”. Mas, se alguém lhe diz: “você é um orgulhoso e um pobre
pecador”, então elas se irritam ao extremo. Ou seja: outros não podem
dizer aquilo que elas dizem sem acreditar. É preciso lutar também contra a
sensibilidade doentia: “o que pensarão de mim?”, “o que dirão de
mim?”, “será que eles gostaram?”, “magoaram-me!” Nós não precisamos
desprezar-nos diante dos outros para mostrar que somos humildes, mas também não
precisamos supervalorizar-nos internamente. É suficiente mostrar-nos como
somos, isto é, com autenticidade e moderando a própria desordem interior.
Quando se é inteligente, por exemplo, e alguém elogia isso em nós, podemos
dizer simplesmente um “obrigado”. Também é importante que,
aceitado o elogio, dirijamos, no silêncio do nosso coração, esse louvor ao
Senhor: “para Deus toda a glória!”
Por
outro lado, não vamos andar por aí divulgando as nossas virtudes, os nossos
cargos e as nossas responsabilidades; poderiam ser manifestações de soberba.
Outra coisa seria a necessidade de utilizar alguma vez uma coisa meritória que
tenhamos feito para reclamar um direito que por justiça nos pertence. Um
exemplo: o aluno que estudou muito e fez uma boa prova tem o direito de que lhe
deem uma boa nota; se fez uma ótima prova, a nota também deverá ser ótima. Não
é soberba ir reclamar com o professor no caso de que a nota tenha sido baixa ou
menor do que aquela que ele julgava justa. Em nome da verdade e sem falsa
humildade, o tal aluno pode – e até deveria – reclamar e lutar pelos seus
direitos.
Como se
pode ver: a humildade nos ajuda a andar
em verdade!
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