O
|
tempo de Natal é o tempo das reuniões em
família, aquele almoço que começa com uma caipirinha ao meio-dia e termina ao
pôr-do-sol… Mas o evangelho de hoje põe em xeque aquela sensação de segurança e
aconchego, a família patriarcal, com a casa e os pais no centro e os filhos
girando em redor. São José, partilhando a mentalidade de seu povo, deve ter
julgado desse jeito patriarcal a respeito da educação de Jesus. Mas o evangelho
nos conta uma história que entra em colisão com esse conceito tão natural…
Na véspera de se
tornar membro adulto da comunidade judaica, os pais levaram Jesus para o templo
de Jerusalém, para celebrar a Páscoa e mostrar-lhe a alegria de viver na
comunidade dos fiéis israelitas. Na volta, constatou-se a ausência do menino na
caravana. Depois de três dias de busca, o encontraram numa dependência do
templo, recebendo aulas dos mestres de Sagrada Escritura. E aos aflitos pais,
ele respondeu: “Não sabíeis que devo estar naquilo que é de meu Pai?” Depois,
voltou com eles para casa e continuou vivendo lá na mais natural obediência
filial.
Jesus tinha duas “casas
do pai”: a de José, por enquanto; e a de Deus, para sempre. E esta
última é a casa decisiva.
Essa história contém
uma lição para os pais cristãos. “Teus filhos não são teus filhos”,
diz o profeta no livro de Kahlil Gibran. Os filhos são filhos de Deus. É por
isso que se batizam os filhos desde pequenos. Ora, isso tem consequências: a
casa, o sustento e a educação que os pais cristãos proporcionam a seus filhos,
por maior que seja sua dedicação, tudo isso está a serviço daquela “casa”
mais importante e destina-se a um encaminhamento superior, no sentido do plano
de Deus.
Os pais não educam
seus filhos para si, mas para Deus. A pais ricos pode assim acontecer que
paguem estudos de médico, para depois ver seu filho se dedicar, quase de graça,
ao serviço de saúde da Prefeitura ou do Estado, para atender gente sem renda …
A pais pobres – como foram José e Maria – acontece que o filho que lhes poderia
facilitar a vida começa, num determinado momento, a empenhar todos os seus
recursos nos projetos e nas lutas da comunidade. Nem por isso, tais filhos são
desobedientes ou ingratos. Apenas manifestam que a casa de Deus é maior que a
casa da gente.
“Já não sei
onde está minha casa!” – frase
colhida da boca de um jovem agente de pastoral, cansado de percorrer noite após
noite as ruas do bairro. Um pai de família se queixa ao pároco de que seu
filho, líder de jovens, nunca está em casa. Talvez os pais de tais filhos
estejam passando pela aflição que assolou José. O consolo é: ler o evangelho
até o fim…
Mas ficamos com
outra preocupação ainda. A grande maioria dos filhos hoje não “se
perde” no templo da comunidade, na “casa do Pai”, e sim, nos templos do
consumo, os shopping centers, as danceterias etc. E o caminho que aprendem
naqueles palácios da satisfação imediata e ilimitada não está no evangelho de
Lucas - a não ser a parábola do filho pródigo.
FONTE: Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora
Vozes
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.