Tão sublime Sacramento!
Reflexão do Cardeal Odilo Scherer
A |
solenidade de Corpus Christi nos coloca diante
do grande tesouro da Igreja, a Eucaristia. Todos os domingos celebramos, e
também todos os dias; desta vez, porém, nossa atenção concentra-se sobre o
próprio Mistério da Eucaristia; acolhendo mais uma vez este dom inefável, adoramos,
agradecemos, louvamos e nos alegramos no Senhor.
Os
textos da liturgia de Corpus Christi fazem menção a diversos significados e
percepções da fé da Igreja na Eucaristia. É “memorial” da paixão, instituída
por Cristo na última ceia, pouco antes de padecer a cruz. As palavras de Jesus
dão significado ao gesto da entrega do pão e do vinho aos apóstolos: “é meu
corpo entregue por vós; é meu sangue, derramado por vós”.
Jesus
refere-se àquilo que aconteceria logo em seguida: ele se entregou “por” nós
sobre a cruz, em nosso favor; seu sangue derramado é redentor, como para os
hebreus, no Egito, foi o sangue dos cordeiros pascais, untado nos umbrais das
portas. A última ceia de Jesus com os apóstolos era a ceia da Páscoa judaica,
na qual se comia o cordeiro pascal. Jesus lhe dá novo significado, como “ceia
da nova e eterna aliança”, selada no seu próprio sangue.
A
Liturgia faz constantes referências a este aspecto “sacrifical” da Eucaristia,
ceia pascal dos cristãos. Antes da comunhão, a Eucaristia é apresentada ao povo
com estas palavras: “eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Na
cruz, Jesus é o “cordeiro imolado” entregue inteiramente pela nossa redenção,
“para que não pereça todo aquele que nele crê”. Por esta “entrega por nós”,
alcançamos misericórdia, perdão e vida sem fim.
A
Eucaristia é também “sinal de unidade e vínculo da caridade” (S. Agostinho).
Chamando a atenção da comunidade de Corinto para a dignidade da celebração
Eucarística, Paulo recorda que “o pão que partimos é comunhão com o corpo e o
sangue de Cristo” e, portanto, “nós todos somos um só corpo”, em Cristo (cf
1Cor 10,16-17).
No
Prefácio da Santa Eucaristia, o celebrante proclama: “fazeis de todos nós um só
coração, iluminais os povos com a luz da mesma fé e congregais os cristãos numa
mesma caridade”. A Eucaristia é banquete de irmãos à mesma mesa, unidos todos
numa só família, “em Cristo”. Nela, nossa comunhão no amor de Cristo e na mesma
fé da Igreja é significada e realizada. Por isso, o dissenso da fé eclesial e a
orientação individualista e egoísta da vida são atitudes contrárias à
participação neste sacramento.
A
Eucaristia é também “pão da vida eterna”. Após o milagre da multiplicação dos
pães e dos peixes, Jesus convida as pessoas a procurarem “o pão vivo descido do
céu”, que é ele próprio: “eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste
pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do
mundo” (Jo. 6,51). Cristo quer continuar a ser o alimento da nossa fé. E quem
dele se nutre, “viverá para sempre” (cf Jo.6,58).
A
Eucaristia é celebrada aqui na terra “até que Ele venha”. Por isso, ela também
é sinal e anúncio profético da grande esperança que vem da nossa fé: aquilo que
acolhemos na penumbra da fé e celebramos por sinais na terra, é o mesmo que
ainda esperamos e se tornará plenamente manifesto na vida eterna: “anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor
Jesus!”.
Quanta
riqueza, na Eucaristia! Não é sem razão que, em Corpus Christi, a Igreja adora
e aclama este “sublime Sacramento” – “Sacramento de Jesus Cristo e da sua
Igreja”! Vinde, todos, adoremos e rendamos graças ao Senhor!
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