Pe. Paulo Sérgio
Silva - Diocese de Crato – CE.
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a estrada
pascal que percorremos em direção ao Pentecostes, depois de apresentar Jesus
Cristo como a Misericórdia Divina encarnada,
a liturgia da Palavra o apresenta agora como Bom Pastor.
Este título messiânico nos indica que Ele é o modelo de sacerdote e guia para
toda a humanidade. Significa reconhecer que Ele nos ama de forma incondicional
a ponto de ser capaz de dar vida por nós. É, portanto, este o tema central que
a Palavra de Deus propõe hoje à nossa reflexão. Assim sendo, somos convidados a
refletir sobre a identidade de Jesus enquanto pastor e ao mesmo tempo
refletirmos sobre a nossa própria identidade uma vez que reconhecendo-o como
Messias Ressuscitado, nos tornamos seu rebanho e respondemos ao Seu chamado
para anunciar o Evangelho a todas as criaturas e perseverar na vida comunitária
dando testemunho ao mundo da partilha, do serviço e da caridade.
Na primeira leitura (At. 2,14a.26-41) continuamos
acompanhando a catequese missionária em forma de pregação do Apóstolo Pedro.
Pelas suas palavras compreendemos qual é o itinerário catequético da Igreja
desde o início de sua missão: O Apóstolo proclama o “querigma cristão”;
este primeiro anúncio produz a conscientização e o arrependimento que leva ao
desejo de conversão (Metanoia).
Como ovelhas que buscam o pastor, os ouvintes, na sinceridade do seu coração,
indagam aos Apóstolos: “irmãos, o que devemos
fazer?” (At. 2,37).
Como fora realizado nos livros sapienciais, a eles é apresentado dois caminhos: conversão e batismo para toda a
humanidade. Os ouvintes do Apóstolo Pedro devem escolher por uma verdadeira
adesão à Cristo, por isto a necessidade do Batismo e da acolhida do Espírito
Santo. Todavia, eles devem também aceitar o fato de que o chamado a conversão a
Cristo é para todos os povos, não apenas para Israel, porque Ele veio para que
“todos” tenham vida. Atualmente o processo catequético teve uma pequena
mudança. Primeiro somos batizados e à medida que vamos crescendo devem despertar
para a conversão que leva a verdadeira e consciente adesão a Cristo. Esta
conversão e adesão deve ser expressada em nossa vida pelos valores que vivemos
como cristãos. Acostumados à mentalidade permissiva e relativista do mundo,
temos que crescer na consciência de que os valores que devem alimentar nosso
coração são aqueles que foram ensinados e vividos por Cristo e anunciados pela
Igreja. Pois, a verdadeira metanoia se realiza quando ouvimos o chamado e
escolhemos passar pela “Porta” que é Cristo.
A comunidade cristã, através do testemunho de Pedro, ao afirmar
Jesus Cristo como único salvador, o reconhece como seu pastor e guia que nos
conduz em direção à vida verdadeira. Mas tarde, no futuro, a comunidade
cristã irá afirmar pela regra de São Bento: “nihil amori christi praeponere” (nada
antepor ao amor de Cristo).
Na segunda leitura (1Pd.
2,20b-25) continuamos do mesmo modo acompanhando a
correspondência pastoral entre Pedro e suas Comunidades localizadas no interior
da Ásia dos anos 80 d.C. E aqui também se vislumbra a apresentação de Cristo
como “o Pastor” que guarda e conduz as suas ovelhas. Se as ovelhas devem
obedecer e se deixar guiar pelo pastor, da mesma maneira os cristãos devem
buscar imitar em suas vidas o exemplo de Jesus Cristo. O cristão deve viver em
sua vida o todo da imitação de Cristo, não apenas as partes de sua missão que
lhe são agradáveis. Como o servo sofredor (Is. 52-53),
Cristo deu-nos o exemplo da paciência. Ele sofreu com resignação e morreu com
amor e por amor, antes de chegar à ressurreição. Eis à esperança para as
pequenas comunidades cristãs que como Jesus Cristo recém-nascido, já são
perseguidas e ameaçadas: apesar dos sofrimentos que têm de suportar, pela
fidelidade, estão destinadas a viver com Cristo em sua glória. Por isso, devem
permanecer em obediência a Ele, vivendo com alegria e coragem o seu compromisso
batismal.
O Evangelho (Jo.
10,1-10) ao invés de apresentar a tradicional parábola
do Bom Pastor, o evangelho escolhe fazer uso da alegoria da “porta do redil” que abre caminho para
anunciar a parábola do bom pastor. Ao enxergar Jesus como a porta do redil que
dá acesso ao Reino de Deus compreendemos que somente vivendo como ele poderemos
entrar neste Reino. Somos nós que temos que nos adequar para poder passar pela
porta, não é a porta que deve ser alargada para que passemos comodamente.
Sabemos como a figura do “pastor” é emblemática para a fé do
povo de Israel. Sendo assim, somos convidados a recordar o primeiro
mandamento dado a Israel: a escuta.
(Dt. 6,4). É
através do ato de ouvir que as ovelhas identificarão o Pastor e é por meio do
testemunho/vivência das ovelhas que Ele será identificado como Bom Pastor. Com
o discurso que ouvimos hoje, os discípulos contemporâneos a Jesus puderam
entender que fazer parte da comunidade cristã, isto é, do rebanho de Cristo é
antes de tudo, escutar e se comprometer fielmente com sua proposta de nova
humanidade. Proposta esta que se realiza com a doação da própria vida através
do amor e do serviço.
A missão de Jesus é trazer a vida plena
a todos os seres humanos (Jo. 10,10).
Em nossa sociedade atual a figura do pastor já não atrai a nossa sensibilidade
como fazia com as primeiras comunidades. Hoje se fala muito na palavra “líder”,
função que muitas vezes transparece a presença de alguém que se impõe, que
domina, que exige e que manda nos outros. Por isto, se faz tão necessário
retornarmos à espiritualidade das primeiras comunidades cristãs que
contemplavam o ícone de um jovem portando nos ombros uma ovelha resgatada como
recordação de Jesus Cristo cuja vida revelou ação de um Deus que assumiu para
si a responsabilidade de cuidar de todos tornando-se o verdadeiro Pastor da
humanidade através da coragem, serenidade, doação, simplicidade, serviço e amor
gratuito.
Cientes de nossas debilidades, precisamos confiar nossa vida e
história aos cuidados Daquele que é capaz de nos proteger e guiar, a ponto de “se
entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas”. Eis o que
distingue o bom e verdadeiro Pastor do pastor mercenário. É a atitude diante do
“lobo” (aqui o lobo, simboliza tudo o que põe em perigo a vida das ovelhas:
a corrupção, a injustiça, a violência, o pecado, o ódio do mundo). O pastor
mercenário é contratado por dinheiro. O rebanho não é dele. Ele ama o dinheiro,
não as ovelhas que lhe foram confiadas. Apenas cumpre o seu contrato. Foge
quando percebe o perigo que ameaça a ele e aos seus interesses pessoais. O
verdadeiro pastor é aquele cuja fonte do serviço é o Amor, não o dinheiro. Ele
não veio cumprir um contrato, mas fazer com que as ovelhas tenham vida em
abundância. O bem das ovelhas é a sua prioridade vital. Por isso, ele arrisca
tudo em favor do rebanho e está disposto a dar a própria vida por essas ovelhas
que ama.
Estamos verdadeiramente seguindo o Bom Pastor? Ou
estamos seguindo pretensos líderes por estradas que ao invés de pastagens
abundantes tem-nos levado a abismos e a terra árida? Como as primeiras comunidades cristãs fizeram com Pedro e
os Onze, ainda escutamos o Papa e nossos Bispos que são sinal da Tradição e do
Magistério que fizeram chegar até nós a presença de Cristo? Quais
sãos as vozes que estamos escutando e deixando conduzir nosso coração? Será de
um político corrupto, ganancioso e manipulador? Será de um artista narcisista?
De um influenciador digital egocêntrico? De algum líder religioso que adultera
e manipula a Palavra de Deus para impor seus devaneios anticristãos?
Busquemos conhecer e aderir a Cristo. Somente Ele pode preencher
as nossas mais íntimas aspirações de Paz, de Verdade e de Vida plena.
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