Pe.
Paulo Sérgio Silva – Diocese de Crato-Ceará.
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e na Quaresma realizamos uma peregrinação em direção a Jerusalém, na
Páscoa somos convidados a nos congregar/reunir em comunhão com o Cristo
ressuscitado à espera do Espírito Santo prometido à Igreja. A liturgia da
Palavra de hoje, continuando a catequese iniciada no domingo anterior, reafirma
a essência da missão da Comunidade eclesial (Igreja): anunciar
Cristo ressuscitado com palavras, testemunhá-lo concretamente pela vivência do
Evangelho para assim concretizar o projeto do Reino de Deus que Ele iniciou.
À luz desta afirmação compreendemos que Jesus, vivo e ressuscitado, permanecerá
sempre acompanhando a sua Igreja em missão, vivificando e rejuvenescendo-a com
força do Espírito Santo e orientando-a com a sua Palavra. E esta mesma Palavra
que nos foi proclamada hoje desperta algumas questões cruciais e ao mesmo tempo
em que oferece caminhos para responder tais questões: Como
é podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como
podemos revelar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer-nos a
salvação? Resposta: Encontro e anúncio. E é a partir desse
“encontro”, que os discípulos são convidados a dar testemunho de Jesus diante
de toda a humanidade.
A primeira leitura (At.
2, 14.22-33), Atos dos Apóstolos,
apresenta-nos, a Igreja nascente, simbolizada por Pedro e os Onze Apóstolos, na
sua missão de dar o testemunho sobre Jesus. Depois de terem anunciado, em
palavras e em gestos concretos (At. 3,1-10),
que Jesus está vivo e permanece oferecendo a salvação (At. 3,11-26), os apóstolos convidam a
multidão que os ouve a acolher a proposta de vida plena que Jesus lhes faz (At. 2,36-41).
Se trata do início do anúncio e testemunho da
comunidade apostólica e simultaneamente também o início das perseguições aos
cristãos. Pedro, como outrora fizera tantas vezes diante de Jesus Cristo, professa
a sua Fé. No entanto, agora o faz corajosamente diante de uma vasta multidão
composta por todos os grupos que compõem a sociedade israelita e realiza o
“Querigma”. Aqui vislumbramos nas palavras de Pedro, a semente do que mais
tarde se tornará a arvore frondosa e firme que conhecemos como “Credo” ou
“Símbolo Apostólico” (que rezamos aos domingos). Ao falar diante dos
perseguidores, Pedro e os demais Apóstolos e Discípulos cumprem os pedidos que
Jesus lhes fez na terceira vez que apareceu a eles como ressuscitado.
Mesmo que o mundo se oponha ao nosso testemunho, o cristão deve antes obedecer
a Deus do que aos homens (At. 5,27-33).
Na segunda leitura (1Pd. 1,17-21) continuamos
ouvindo a catequese e exortação do Apóstolo Pedro endereçadas
as comunidades cristãs no final dos anos 80 d.C. que começavam a padecer as
violentas perseguições do imperador Domiciano. Como pai e pastor, Pedro os
aconselha a manter a fidelidade à sua fé, apesar dos sofrimentos e
perseguições. Novamente os recorda o exemplo de Cristo, que em sua missão
passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à glória da
ressurreição. Deste modo exorta-os a manter viva a chama da esperança, da fé,
do amor, por meio da solidariedade, vivendo com alegria, coragem, coerência e
fidelidade a sua vocação batismal.
Em suma, as palavras de Pedro são um
apaixonado convite à santidade. Uma vez que ao apresentar o exemplo de
Jesus Cristo, o Cordeiro sem mancha, suplica aos cristãos que vivam na
obediência, na confiança e na entrega a Deus, testemunhando aquilo são
verdadeiramente: um povo consagrado ao Senhor.
No Evangelho (Lc. 24,13-35), Lucas nos apresenta um relato
exclusivo do seu evangelho que não aparece em nenhum outro escrito cristão.
Longe de ser um relato histórico e científico, se trata de uma catequese que
deseja ensinar aos cristãos perseguidos da década de 80d.C como podem realizar
a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Por isto, nos é relatado um
dos primeiros encontros de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, com a sua comunidade.
Acompanhamos dois discípulos que depois de
abandonar a comunidade de Jerusalém estão retornando à sua aldeia. Eles estão
desolados. E não é para menos, afinal, seus sonhos jazem sepultados depois de
padecer numa cruz. Jesus de Nazaré que se apresentara tão grandioso em
prodígios e portentos e que eles pensaram ser o Messias triunfalista, fora
julgado, condenado, crucificado e morto. São estes os fatos que eles
informam a um desavisado peregrino que surge naquele caminho pesaroso e que apesar
de estar vindo de Jerusalém, não sabia de nada que acontecera. O peregrino se
torna companheiro na estrada e escuta atentamente o seu relato cheio de queixas
e amargas decepções e se espanta com sua falta de fé (Lc. 24,25). Então, calmamente, com
destreza de um Mestre, lhes revela tudo que fora predito pelos profetas sobre o
Messias e sua paixão. Sim. Os dois discípulos guardaram vivamente tudo que
acontecera nos últimos dias na cidade de Jerusalém. No entanto, seu relato
encontrava-se ainda incompleto, pois ele se encerrava na cruz e na falta de fé
naquilo que fora testemunhado pelas mulheres da comunidade. Faltava a eles a fé
no Cristo ressuscitado.
Como e onde os discípulos podem fazer a experiência do encontro com
Jesus ressuscitado? Na segunda parte da
viagem, quando o peregrino é convidado a pernoitar com eles, no momento da
refeição abençoada, eles descobrem a resposta. É no encontro fraterno com
aqueles que partilham da mesma fé e da mesma mesa eucarística, escutando a
Palavra de Deus, compartilhando esta vivência através do amor experimentado em
gestos de fraternidade e de serviço. Os discípulos, alimentados pela Palavra e
encorajados pela sua Paz que faz arder o coração, recebem de Jesus a missão de
dar testemunho a toda humanidade das ações salvadoras de Deus. A essência da
missão da Igreja (os discípulos de Jesus Cristo) é pregar a conversão a todos
os homens e mulheres, indicando que a vida nova que Deus oferece, ou seja, a
salvação, a vida eterna, se realiza quando acolhemos a pessoa de Jesus Cristo e
a Ele confiamos nossa vida e nossa história.
Os fatos narrados nos revelam que Jesus
ressuscitado permanece sendo o alicerce sobre o qual se funda e se constrói a
comunidade dos discípulos. E a catequese narrada por Lucas se revela para nós
uma alegoria da celebração eucarística. Pois, as palavras utilizadas para
descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja
primitiva. Dessa forma, nós recordamos como ainda hoje é possível encontrar
Jesus vivo e ressuscitado. Esse Jesus que por amor enfrentou a cruz,
continua a fazer-Se companheiro de nossa peregrinação nos caminhos da história.
É preciso estar atento, pois em meio as perseguições que ainda hoje sofrem os
anunciadores do Evangelho, enquanto padecemos sofrimentos e enfrentamos a tentação
de desistir e voltar atrás, o Senhor a cada domingo nos acompanha para pegar
nosso coração descrente e frio e fazê-lo novamente arder de compaixão, fé e
misericórdia. Não esqueçamos: sempre que nos reunimos em nome de Jesus para
“partir o pão”, Ele lá estará, vivo e atuante, em nosso meio.
É tempo, pois, de voltar para o seio da
comunidade. Se nossa fé fraquejou por motivos diversos a ponto de nos fazer
abandonar a comunidade na qual fomos gerados no Batismo, voltemos. Retornemos,
pois é lá que o Senhor espera para novamente partilhar Seu Corpo, Seu Sangue e
Sua Vida. E com esta partilha permanente haveremos de edificar o Reino de Deus
Pai que foi e permanece sendo o centro da vida e da missão de Jesus Cristo.
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