Dom Sérgio Manuel Ribeiro Dinis
Bispo Ordinário Militar de Portugal
A |
cada ano, na QUARTA-FEIRA DE CINZAS,
os católicos iniciam o tempo da QUARESMA, tempo no qual a liturgia da Igreja Católica
nos convida a uma reflexão e atuação sobre as nossas vidas, sobre o seu
sentido, a sua origem, a sua missão, o seu destino último.
Trata-se,
portanto, de um tempo forte para a conversão que, em teologia e vida cristã,
significa uma adequação de nosso ser, existir e atuar à própria vida de Jesus
Cristo, ao seu evangelho, aos seus valores, às suas convicções, à sua proposta
de vida: gastar a vida ao serviço do evangelho, ou seja, a favor dos outros,
especialmente dos mais necessitados, para obter a vida eterna, a vida feliz, a
vida plena.
Por
isso, a Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial, para
cada crente, pessoalmente, e para a comunidade cristã em geral, que começa com
as cinzas e conclui com a noite da luz, a noite do fogo e da luz: a noite santa
da Páscoa de Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A
Quaresma simboliza, assinala e recorda um passo, uma Páscoa, um itinerário a
seguir de maneira permanente: a passagem do nada à existência, das trevas à
luz, da morte à vida, do insignificante à vida abundante em Deus, por meio de
seu Filho Jesus Cristo. E é que converter-nos significa destruir, abandonar,
queimar, tornar cinzas o homem velho, o homem-sem-Cristo, para revestir-nos do
homem novo, o homem-no-espírito, que é fogo novo no mundo.
Na
Quarta-Feira de Cinzas, enquanto o sacerdote impõe as cinzas ao penitente, diz
estas duas expressões alternadamente: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" e/ou "Lembra-te, que és pó e ao pó hás de voltar". Sinal e palavras que expressam
a nossa condição de criaturas, a nossa absoluta dependência de Deus, o nosso
peregrinar rumo a uma pátria definitiva, a nossa caducidade…
A
Quarta-Feira de Cinzas em particular e a Quaresma em geral, são um tempo
litúrgico e um convite a voltar nosso olhar e vida para Deus e aos princípios
do Evangelho. Assim, se a Quaresma é tempo para a conversão, para melhorar no
processo de humanização pessoal e comunitário, então a Quaresma coincide com a
própria vida de todo crente, com o ser e missão de toda a Igreja e com a
vocação da comunidade humana inteira.
A
Quaresma é um convite a mudar aquilo que temos de mudar, na busca de ser melhor
e mais feliz, um convite a construir em vez de destruir e a olhar e voltar para
formas de vida mais justas, mais solidárias, mais humanas. A Quaresma é um
convite a buscar diligentemente novas formas de ser e fazer Igreja, sendo
melhores e mais autênticos discípulos do Crucificado Ressuscitado.
O
tempo litúrgico da Quaresma, como a nossa própria existência, é percorrido com
o olhar dirigido para a Páscoa da Ressurreição e para a Páscoa definitiva em
Deus. Páscoa de vida abundante que se opõe a toda forma de discriminação e de
envelhecimento do ser humano, da sua dignidade, a toda forma de atropelo e
violência, a toda forma de mentira, maldade e morte, a toda forma de corrupção
e divisão, a toda forma de marginalização e opressão. Porque a Páscoa, como
ponto de chegada, cume e superação da Quaresma, é absoluta novidade de vida, da
vida abundante que Deus nos oferece e à qual Deus nos convida neste tempo e em
todo momento.
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