Padre Alir Sanagiotto, SCJ
Portal Canção
Nova
É direito de todo cristão manter um relacionamento com Deus,
inclusive os casais em segunda união.
A
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Igreja não quer
discriminar nem punir os casais em segunda união, mas lhes oferecer um caminho
espiritual-pastoral adaptado à sua situação, o qual é apontado claramente pela “Familiaris Consortio”. Esse
caminho pode ser chamado e é de fato um caminho espiritual-pastoral, muito rico
de frutos de vida cristã, mesmo que o “status
permanente” de segunda união seja uma
situação “irregular”.
A Exortação Apostólica “Familiaris
Consortio”, 1981, de João Paulo II, no n.
84, exorta os casais divorciados a participar de um caminho de vida cristã que
deve consistir em: “Ouvir a Palavra de Deus,
frequentar o sacrifício da Missa, perseverar na oração, incrementar as obras de
caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, educar os filhos
na fé cristã, cultivar o espírito e as obras de penitência, que se resume em
“perseverarem na oração, na penitência e na caridade”.
A Exortação Apostólica “Sacramentum
caritatis”, 2007, de Bento XVI, no nº 29,
reafirma o convite de cultivar, quanto possível, um
estilo cristão de vida por meio da participação da Santa Missa, ainda que sem
receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração
Eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco
com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da
caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos”.
1. A comunhão com a Palavra de Deus
Escutar
é mais que ouvir, é atender o que se diz. É ir assimilando e tornando pessoal o
que foi dito. É algo ativo, não passivo. É uma abertura a Deus que a eles
dirige a Sua Palavra. Por intermédio de Isaías ou de Paulo fala-lhes aqui e
agora. Algumas vezes, esta Palavra os consola e os anima. Outras, julga suas
atitudes e desautoriza seu estilo de vida, convidando-os para a conversão.
Sempre os ilumina, os estimula e os alimenta.
A
Palavra que Deus lhes dirige é sobretudo uma Pessoa: o Seu Verbo, a Sua
Palavra, Jesus Cristo. Ele não se dá somente no Pão e no Vinho, mas está
realmente presente na Palavra que nos é proclamada e que escutamos. Também a
nós o Pai continua a dizer: “Este é
o meu Filho muito amado: escutai-O”.
“A leitura da Sagrada Escritura, acompanhada pela oração,
estabelece um colóquio de familiaridade entre Deus e o homem, pois a Ele
falamos quando rezamos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos” (DV 25). Este colóquio torna-se mais intenso pela “Lectio Divina”, ou
seja, pela leitura meditada da Bíblia, que se prolonga na oração contemplativa.
A Lectio é divina, porque se lê a Deus na Sua
Palavra e com o Seu Espírito, pode ajudar os casais em segunda união na
consecução de uma grande familiaridade não só com a Palavra, mas com o mesmo
Deus.
2. A visita e a adoração ao Santíssimo
Sacramento:
Jesus, sendo vivo e presente no Sacrário, pode ser visitado e adorado.
Ele espera, ouve, conforta, anima, sustenta e cura. Por conseguinte, a visita e
a adoração ao Santíssimo é um verdadeiro e íntimo encontro entre o visitante e
o Visitado, que é Jesus. A visita e a adoração são uma escolha pessoal do
visitante, e, acima de tudo, um ato de amor para com o Visitado. A simples
visita ao Santíssimo transforma-se em adoração, que é o ponto mais alto desse
encontro.
Os casais em segunda união são chamados e convidados para serem
os adoradores do Santíssimo pela prática tradicional da hora santa, que muito
os ajudará na espiritualidade, seja do grupo como também do próprio casal. A
prática frequente da hora santa não é um opcional, por isso não se pode
deixá-la facilmente de lado, pois ela é necessária para a perseverança.
3. A visita a Maria Santíssima: um conforto
para o seu povo
Se o próprio Jesus, moribundo na cruz, deu Maria como Mãe ao
discípulo: “’Mulher, eis aí teu filho';” e a você discípulo como Mãe: ‘Eis aí, tua mãe!’” (João 19, 26-27), é bom e recomendável que o casal em segunda
união não tenha medo em fazer esta visita de carinho para receber conforto,
força e consolação de sua Mãe. Essa visita pode ser feita numa capela dedicada
a Virgem Maria ou em casa junto com a família ou na intimidade do seu quarto.
Pensando nisso, é bom e confortável que o casal em segunda união não se esqueça
de visitar, quantas vezes puder, Maria Santíssima.
Visitar Maria, a Mãe de Jesus, é ir ao seu encontro sem
reservas, é entregar-se de coração a um coração que não tem limites para amar.
Nossa Senhora em Medjugorie disse aos videntes e a nós seus filhos: “”Se soubésseis quanto vos amo, choraríeis de alegria””. Maria nos ama muito, como filhos queridos. O que ela mais
deseja é ver seus filhos deixarem-se amar por ela. O seu desejo é o de seu
Filho: salvar a todos. A Santíssima Virgem nos espera, todos os dias, e ela
sabe que quanto mais perto estivermos dela, mais perto ficaremos de Jesus, pois
a sua meta é a de nos levar a Ele.
4. Perseverança na Oração
O casal em segunda união é convidado para perseverar na oração.
A oração pode ser pessoal, pode ser como casal, com a família e os filhos ou
oração comunitária com os outros casais ou com outros fiéis.
5. Participação da Santa Missa: um encontro de
amor
O casal de segunda união, como todo bom cristão, considerando
este amor infinito de Jesus, deve participar da Santa Missa com amor fervoroso,
de modo a particular do momento da consagração, pois é nesse momento que Jesus
é vivo e presente.
Bento XVI, em recente discurso ao clero de Aosta, valoriza a
participação dos casais recasados na Santa Missa mesmo sem a comunhão
eucarística. A esse respeito o Papa fez este lindo e confortável comentário:
“Uma Eucaristia sem a comunhão eucarística não é certamente
completa, pois lhe falta algo essencial”. Todavia, é também verdade que
participar na Eucaristia sem a comunhão eucarística não é igual a nada, é
sempre um estar envolvido no mistério da cruz e da ressurreição de Cristo. É
sempre uma participação no grande sacramento, na dimensão espiritual, pneumática
e também eclesial, se não estreitamente sacramental.
E dado que é o sacramento da Paixão do Senhor, é Cristo sofredor
que abraça de modo particular essas pessoas e comunica-se com elas de outra
forma; portanto, elas podem sentir-se abraçadas pelo Senhor crucificado que cai
por terra e sofre por elas e com elas.
Por conseguinte, é necessário fazer compreender que mesmo que,
infelizmente, falte uma dimensão fundamental, todavia tais pessoas não devem
ser excluídas do grande mistério da Eucaristia, do amor de Cristo aqui
presente. Isso parece-me importante, como é importante que o pároco e a
comunidade paroquial levem tais pessoas a sentir que, se por um lado, devemos
respeitar a indissolubilidade do sacramento e, por outro, amamos as pessoas que
sofrem também por nós. “E devemos também sofrer juntamente com elas, porque dão
um testemunho importante, a fim de que saibam que no momento em que se cede por
amor, se comete injustiça ao próprio sacramento, e a indissolubilidade parece
cada vez mais menos verdadeira”.
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