Rainey Barbosa Alves Marinho
Grupo Genezaré
MFC Maceió
H
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á cerca de duas semanas atrás fui a São
Paulo, capital financeira de nosso Brasil. Lá almocei com meu irmão que já mora
naquela "Selva de Pedra" já faz alguns anos. Faço questão que isso
aconteça, não por obrigação, mas por um carinho todo especial que tenho com um
garoto-homem muito valente, vinte anos mais novo, que com a cara e a coragem
migrou seus sonhos e expectativas para bem longe do conforto proporcionado pela
casa de seus pais, enfrentando a dureza da lida de frente, sem pormenores. Um
bravo nos seus vinte e seis anos. Um exemplo para os acomodados.
Pois bem, nesse dia no shopping Eldorado,
conversamos de tudo e rimos muito em apenas uma hora de almoço. Ao fim, falei
para ele não demorar muito em visitar nossos pais, eles tinham saudades. A vida
nos pega de surpresa. Não gosto das "piadas sem graça" que ela às vezes
nos prega. Ele concordou e foi embora depois de um longo e querido abraço.
Meu último compromisso do dia era por volta
de 17h30min, resolvi então assistir um filme no cinema do shopping. Após
comprar o ingresso fiquei esperando enquanto não liberavam a entrada, sentado
em uma das mesas que ficam em frente ao cine, foi quando ouvi uma voz muito
serena e cansada me perguntar: O amigo vai ao cinema?
Olhando ao lado percebi um senhor, bem
velhinho e distinto. Respondi rapidamente de forma monossilábica: Sim.
Dizem que esse filme é muito bom, prazer meu
nome é Salustiano.
A partir dai a conversa fluiu
maravilhosamente bem. Ele falou sobre tudo, o que é raro para quem vive em São
Paulo. Versou sobre sua vida, seus filhos, que já fazia algum tempo que não
via, mesmo um deles morando na cidade, da falta que ele tinha de sua esposa
falecida depois de tantos anos juntos, reclamou da falta d'água, da eleição. No
fundo senti naquela alma um pouco de tristeza. Certo vazio.
Logo chegou a hora da sessão, entramos juntos
sentando em poltronas separadas. Fiquei um pouco acima e de onde eu estava na
penumbra da projeção dava para ver seu Salustiano, sozinho, assistindo seu
filme. O nome da película era o Juiz. Uma história linda do reencontro entre um
pai e um filho, após o falecimento da mãe e esposa. Depois de anos sem trocarem
nenhuma forma de carinho, eles tentam uma reaproximação, lutando para entender
os motivos que levaram ao distanciamento - a tragédia os une. Uma reconstrução
de uma vida perdida pela falta de diálogo. A similaridade das histórias
machucou até a mim.
Quando a projeção acabou fui embora
rapidamente, não vi mais o senhor.
Descendo do avião em Maceió dois dias depois,
meu telefone toca ainda dentro da aeronave. Era minha esposa avisando que meu
pai havia passado mal e estava indo para o hospital naquele momento. Sai direto
do aeroporto para a emergência 24 horas do Arthur Ramos, onde fiquei junto com
minha irmã por longas horas e dias de UTI ao seu lado.
Hoje, após uma incrível recuperação depois de
seus dois AVC’s ele já está em casa conosco, sua família. Foi um susto grande.
Ele transformou-se para mim em uma espécie de Lázaro, para quem o Espírito
Santo deu, e também a nós, uma oportunidade de viver ainda mais o amor terreno
que nos cerca.
Eu, aqui, ainda não consigo esquecer o senhor
do cinema.
Peço a Deus que proteja todos os
"Salustianos", ofertando a oportunidade de ressuscitarem para o
milagre da vida ainda em vida, reencontrando a presença e o carinho dos seus
aqui na terra antes da morada definitiva ao seu lado.
"Surge et ambula" Levanta-te e anda
seu Salustiano.
Deus o guarde!
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