quinta-feira, 6 de novembro de 2014

SALUSTIANO "LÁZARO" DA SILVA



Rainey Barbosa Alves Marinho
Grupo Genezaré
MFC Maceió

H
á cerca de duas semanas atrás fui a São Paulo, capital financeira de nosso Brasil. Lá almocei com meu irmão que já mora naquela "Selva de Pedra" já faz alguns anos. Faço questão que isso aconteça, não por obrigação, mas por um carinho todo especial que tenho com um garoto-homem muito valente, vinte anos mais novo, que com a cara e a coragem migrou seus sonhos e expectativas para bem longe do conforto proporcionado pela casa de seus pais, enfrentando a dureza da lida de frente, sem pormenores. Um bravo nos seus vinte e seis anos. Um exemplo para os acomodados.

Pois bem, nesse dia no shopping Eldorado, conversamos de tudo e rimos muito em apenas uma hora de almoço. Ao fim, falei para ele não demorar muito em visitar nossos pais, eles tinham saudades. A vida nos pega de surpresa. Não gosto das "piadas sem graça" que ela às vezes nos prega. Ele concordou e foi embora depois de um longo e querido abraço.

Meu último compromisso do dia era por volta de 17h30min, resolvi então assistir um filme no cinema do shopping. Após comprar o ingresso fiquei esperando enquanto não liberavam a entrada, sentado em uma das mesas que ficam em frente ao cine, foi quando ouvi uma voz muito serena e cansada me perguntar: O amigo vai ao cinema?

Olhando ao lado percebi um senhor, bem velhinho e distinto. Respondi rapidamente de forma monossilábica: Sim.

Dizem que esse filme é muito bom, prazer meu nome é Salustiano.

A partir dai a conversa fluiu maravilhosamente bem. Ele falou sobre tudo, o que é raro para quem vive em São Paulo. Versou sobre sua vida, seus filhos, que já fazia algum tempo que não via, mesmo um deles morando na cidade, da falta que ele tinha de sua esposa falecida depois de tantos anos juntos, reclamou da falta d'água, da eleição. No fundo senti naquela alma um pouco de tristeza. Certo vazio.

Logo chegou a hora da sessão, entramos juntos sentando em poltronas separadas. Fiquei um pouco acima e de onde eu estava na penumbra da projeção dava para ver seu Salustiano, sozinho, assistindo seu filme. O nome da película era o Juiz. Uma história linda do reencontro entre um pai e um filho, após o falecimento da mãe e esposa. Depois de anos sem trocarem nenhuma forma de carinho, eles tentam uma reaproximação, lutando para entender os motivos que levaram ao distanciamento - a tragédia os une. Uma reconstrução de uma vida perdida pela falta de diálogo. A similaridade das histórias machucou até a mim.

Quando a projeção acabou fui embora rapidamente, não vi mais o senhor.

Descendo do avião em Maceió dois dias depois, meu telefone toca ainda dentro da aeronave. Era minha esposa avisando que meu pai havia passado mal e estava indo para o hospital naquele momento. Sai direto do aeroporto para a emergência 24 horas do Arthur Ramos, onde fiquei junto com minha irmã por longas horas e dias de UTI ao seu lado.

Hoje, após uma incrível recuperação depois de seus dois AVC’s ele já está em casa conosco, sua família. Foi um susto grande. Ele transformou-se para mim em uma espécie de Lázaro, para quem o Espírito Santo deu, e também a nós, uma oportunidade de viver ainda mais o amor terreno que nos cerca.

Eu, aqui, ainda não consigo esquecer o senhor do cinema.

Peço a Deus que proteja todos os "Salustianos", ofertando a oportunidade de ressuscitarem para o milagre da vida ainda em vida, reencontrando a presença e o carinho dos seus aqui na terra antes da morada definitiva ao seu lado.

"Surge et ambula" Levanta-te e anda seu Salustiano.

Deus o guarde!


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