Cardeal Orani Tempesta |
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Cardeal
João Orani Tempesta, O.Cist., Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ, citou em seu artigo MEMÓRIAS DE JULHO, publicado no Jornal do
Brasil, do sábado, 11 de julho, a criação do Movimento Familiar Cristão como um
importante evento do mês de julho.
Reproduzimos a seguir, o artigo do Cardeal
João Orani Tempesta no Jornal do Brasil.
MEMÓRIAS DE JULHO
Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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ias atrás fiquei privado de um símbolo que me
acompanhava desde a visita ad limina
que fiz ao Papa João Paulo II em janeiro de 2003, quando ainda bispo de São
José do Rio Preto. Foi a última vez que o encontrei pessoalmente, estava já bem
adoentado e em 2005 ele partiria para a eternidade.
Em sua mensagem aos Bispos do Regional Sul 1,
na época, ele recordou: a época em que
vivemos é ao mesmo tempo dramática e fascinante. Se por um lado parece que os
homens vão ao encalço da prosperidade material, mergulhando cada vez mais no
consumismo materialista, por outro lado manifestam a angustiante procura de
sentido de vida interior, o desejo de aprender novas formas e meios de
concentração e de oração. No dia desse pronunciamento ele entregou a cada
bispo uma cruz peitoral. Receber uma cruz com um cordão de um santo não é
presente de todos os dias! Nos últimos anos tenho-a usado sempre. Uma cruz
prateada simples, com o brasão do Papa santo no seu verso. Era uma recordação
de um grande amigo e do chamado à santidade. É claro que o sentido continua. O
sentido não está no objeto que se perdeu. A imprensa deu grande destaque a esse
símbolo que me foi subtraído no último domingo, porém, eu faço um pedido: que
por onde estiver que ajude muitos jovens no encontro com Jesus Cristo, que deu
sua vida na Cruz e que, como passou pelas mãos do Papa Santo, São João Paulo
II, leve as pessoas a serem santas! É a minha oração e confiança. Essa será
para mim mais uma memória deste rico mês de julho. É o nosso compromisso com
uma cidade mais justa e fraterna. Que chegue aos corações de muitos e toque a
vida das pessoas.
O mês
de julho é pleno de memórias importantes: Congresso Eucarístico Internacional
no Rio de Janeiro, visita do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude,
fundação no Brasil do MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO NO RIO DE JANEIRO, e a grande
primeira visita do Papa São João Paulo II, permanecendo na cidade maravilhosa
os primeiros dias do mês. Ele voltaria outras duas vezes, para o Encontro
Mundial das Famílias e outra fazendo escala em sua viagem à Argentina. Sempre é
tempo de fazer memória, em especial
neste momento em que o Papa Francisco visita de novo a América Latina (Equador,
Bolívia e Paraguai). Vale a pena partilhar um pouco da sua primeira visita, que
tanto marcou as nossas terras.
O pontificado de João Paulo II começou em 16
de outubro de 1978, e desde o início o Santo Papa quis ser peregrino,
itinerante e missionário. Em seus 27 abençoados e fecundos anos de pontificado,
realizou 104 viagens apostólicas aos cinco continentes. Povos de tantas raças,
culturas, idiomas e religiões puderam abraçar e ser abraçados por esse
incansável mensageiro da paz.
São João Paulo II sabia que o Brasil era o
maior país católico do mundo. Uma graça especial, mas também uma vocação e
compromisso. O desejo do Papa era conscientizar sobre a necessidade de promover
uma cultura da solidariedade internacional, que constitui uma dimensão
essencial do bem comum da comunidade mundial. O Brasil, tão católico, não
poderia ficar de braços cruzados.
Antes mesmo de chegar ao Brasil, João Paulo
II enviara uma mensagem saudando a Igreja local e seus Pastores, os governantes
e responsáveis pelo bem comum, às famílias, os jovens, as crianças e os que
sofrem. Dizia iniciar essas jornadas pobres de qualquer aparato humano e
trazendo uma única riqueza: um grande afeto pelo povo brasileiro, o desejo
profundo de proclamar o Evangelho e a vontade de contribuir na consolidação da
fé cristã da nossa gente.
João Paulo II foi o primeiro papa que visitou
nosso país, com apenas dois anos de pontificado. Ele levou uma multidão de 4,5
milhões de católicos e não católicos às ruas e mexeu com o Brasil. O papa
chegou em 30 de junho a Brasília, onde realizou o gesto célebre de ajoelhar-se
e beijar o chão, saudando a Terra que acabava de pisar. Até 11 de julho, quando
embarcou de volta ao Vaticano, passou por Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro
(RJ), São Paulo (SP), Aparecida (SP), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus
(AM), Recife (PE), Salvador (BA), Belém do Pará (PA), Teresina (PI) e Fortaleza
(CE).
A vinda ao Brasil em 1980 foi a sétima
chamada peregrinação internacional de
seu papado. Pela tradição da Igreja, antes de João Paulo II somente um papa dos
tempos modernos, seu antecessor Paulo VI, havia viajado bastante e, mesmo
assim, não tanto quanto ele.
João Paulo II chegou ao Brasil como profeta
de Cristo para anunciar o Evangelho da Vida e denunciar tudo aquilo que ferisse
a dignidade humana em nosso país. Com o coração em Deus e os pés na Terra de
Santa Cruz convidou todos os brasileiros a trilhar as sendas da justiça e
misericórdia para superar os maiores flagelos do Brasil.
O Rio de Janeiro recorda com entusiasmo essa
visita naquele mês de julho de 1980. A Igreja do Rio de Janeiro toda já cantou
no passado a música que eletrizou não só a nossa Igreja Particular, mas todo o
Brasil: A bênção, João de Deus! A bênção,
João de Deus, nosso povo te abraça. Tu vens em missão de paz. Sê bem-vindo, E
abençoa este povo que te ama. A bênção, João de Deus! E no II Encontro
Mundial do Papa com as Famílias (outubro de 1997) aqui no Rio, se acrescentou: João Paulo, aqui estamos, a família reunida.
Em torno de ti, ó Pai, reafirmando a esperança do amor que une a todos!
Todos nós, há trinta e cinco anos, cantamos
esta música com muita emoção e com grande alegria para receber o primeiro Papa
a pisar nas terras brasileiras. São estes sete lustros que queremos rememorar,
lembrando aqueles dias abençoados em que São João Paulo II esteve em nosso
meio, em um encontro com personalidades do mundo da cultura, no seu discurso
por ocasião da celebração dos vinte e cinco anos de fundação do Conselho Episcopal
Latino-Americano (CELAM); no seu encontro com o clero da Arquidiocese do Rio de
Janeiro; da sua visita apostólica aos moradores da Favela do Vidigal; de sua
bênção para a cidade do Cristo Redentor, no Corcovado, e da sua homilia na
santa Missa de Ordenação Sacerdotal.
Nossa Arquidiocese relembra, em todos os seus
rincões, da figura maiúscula desse Papa santo. João Paulo II fez seus discursos
com clareza e sem rodeios. Em pleno regime militar, defendeu justiça social,
liberdade sindical, reforma agrária, direitos humanos e educação sexual.
Enfatizou a situação social da população, e o aborto.
Gostaria aqui de lembrar dos nossos
sacerdotes, que gastam as suas vidas nas periferias existenciais mais difíceis
de nossa Arquidiocese, e a de todos os outros que juntos formamos este bonito
Presbitério: nós não devemos ter medo de anunciar, testemunhar, viver e
convidar a todos a abrirem os corações para o Redentor e a clamar ao Pai de
Misericórdia paz e justiça social para a nossa amada cidade! São João Paulo II,
abençoai a cidade e a Arquidiocese do Rio de Janeiro, e nos ensinai a paz que
tanto Vossa Santidade testemunhou.
Em 1997, após o II Encontro Mundial com as
famílias aqui no Rio de Janeiro, João de Deus se referiu a dois belos símbolos
de nossa cidade: Ao deixar esta terra
abençoada do Brasil, eleva-se na minha alma um hino de ação de graças ao
Altíssimo, que me permitiu viver aqui horas intensas e inesquecíveis, com o
olhar fixo no Cristo Redentor, que domina a Baía de Guanabara, e na certeza do
amparo maternal de Nossa Senhora da Penha a proteger esta cidade querida desde
o seu Santuário, situado não longe daqui.
Outra memória que deverá ficar neste mês
deverá ser o início da grande missão arquidiocesana no ano da Esperança com a
visita da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida. Com esse trabalho,
movidos pela ação do Espírito Santo, desejamos que seja sempre mais essa Terra
abençoada, e que este mês de julho, de tantas memórias, seja o belo momento de,
renascer a confiança de que, com a graça de Deus, podemos trabalhar por um
mundo mais justo e humano, conduzidos pelo Espírito Santo. Diante de um momento
difícil, complexo e violento surge no horizonte a certeza de que o Senhor
Ressuscitado, vida do mundo, é a luz que ilumina as trevas e conduz o povo para
a verdadeira vida! Avante, com coragem, ide
sem medo para evangelizar! Somos testemunhas da esperança!
São João Paulo II, rogai por nós!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist. - Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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