segunda-feira, 20 de outubro de 2014

FAMÍLIA: IGREJA DOMÉSTICA


A FAMÍLIA

      A família é imagem de Deus, que “no mais íntimo do seu mistério não é uma solidão, mas uma família”. Ela carrega uma profunda marca da Trindade.

      O próprio Pai convida os esposos a uma “íntima comunhão de vida e de amor conjugal”, cujo modelo é o amor de Cristo por sua Igreja, no Espírito Santo que é amor.

      Nesse chamado, os esposos, no seu estado de vida e com a sua família, revelam e, ao mesmo tempo, realizam o mistério da Igreja.

      Essa intimidade de vida e de amor, que no início da família se manifesta como amor conjugal, completa-se e aperfeiçoa-se quando se estende aos filhos com a educação.

      É dessa riqueza de vida e de amor que nasce e cresce a família. E do dinamismo da reciprocidade dos esposos e dos filhos nasce uma pequena comunidade.

Nessa pequena comunidade a família reencontra-se como o primeiro “nós”, no qual cada um é “eu” e “tu”; cada um é para o outro respectivamente marido ou esposa, pai ou mãe, filho ou filha, irmão ou irmã, avô ou neto. Enfim, a família é comunidade de pais e filhos; às vezes, comunidade de diversas gerações.

      - O Concílio Vaticano II chama a família nascida do sacramento do Matrimônio uma espécie de “Igreja doméstica” e “santuário íntimo da Igreja”.

      A antiga expressão “Igreja Doméstica” tem suas origens nos tempos apostólicos, quando o núcleo da Igreja era em geral constituído por aqueles que, “com toda a sua casa”, se tornaram cristãos (cf. At 18,8).

      Quando eles se convertiam, desejavam que “toda a sua casa” fosse salva (cf. At 16,31 e 11,14). Essas famílias que se tornavam cristãs eram verdadeiras presenças e testemunhas de vida cristã num mundo incrédulo.

Tais famílias eram a Igreja, como Pio XII iria dizer mais tarde: os fiéis leigos, ou seja, as famílias “são a Igreja”.

      Com o que foi dito acima, em virtude do sacramento do Matrimônio, pelo qual os cônjuges significam o mistério de unidade e de fecundo amor entre Cristo e a Igreja, e desse mistério participam, a família cristã é a menor parcela da Igreja – a Igreja Doméstica. Esta, como Igreja, gera e defende a vida, sustenta as demais estruturas eclesiais, cultiva a paternidade, educa as pessoas para a sociedade e a Igreja, e cultiva as sementes do Reino definitivo.

      Aí está à família, como Igreja Doméstica, aquela que é experiência de quatro relações fundamentais da pessoa humana e do cristão, e que permite fazer essa experiência de paternidade, filiação, irmandade e nupcialidade.

      São essas mesmas relações que compõem a vida da Igreja: a experiência de ter um pai e ter Deus como Pai, experiência de ter irmãos e ter Cristo como irmão, experiência de ter ou ser filho em, com e pelo Filho e, por fim, experiência de ser esposa e ter Cristo como esposo. A vida em família reproduz essas quatro experiências fundamentais e as compartilha em miniatura: são as quatro facetas do amor humano.

      No plano do Criador, a família tem a missão de se tornar cada vez mais aquilo que é, ou seja, a comunidade de vida e de amor. Pois para isso ela foi criada e redimida para alcançar a plenitude do Reino de Deus. Por isso, cabe à família a missão de revelar e comunicar o amor e a vida, e deles cuidar, qual reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade, e do amor de Cristo pela Igreja, sua esposa.

SANTUÁRIO DA VIDA

      A família, fundamentada e vivificada pelo amor, é o lugar próprio e o “santuário”, onde cada pessoa é chamada a experimentar fazer seu aquele amor, e dele participar, sem o qual não pode viver, e toda a sua vida fica destituída de sentido.
      É aí que ela é chamada a viver a missão de servir à vida. Ela deve ser a servidora da vida. Pois o direito à vida é a base de todos os direitos humanos. Porque a vida concebida e não-nascida é o ser mais pobre, frágil, vulnerável e indefeso, que deve receber da família toda a proteção.
      Este serviço à vida não se reduz só à procriação, mas é verdadeiro compromisso de transmitir os valores autenticamente humanos e cristãos à prole e neles educá-la.

Neste sentido, o Criador do universo quer estar presente na família como Deus do amor e da vida. Ele quer que a criatura humana tenha a vida e a tenha em abundância, como proclama Cristo (cf. Jo 10,10); que a tenha, sobretudo graças à família.

Portanto, partindo desse amor e em permanente referência a ele, a família deve ter sempre em conta os valores fundamentais que a Doutrina da Igreja atribui às famílias cristãs. Entre esses valores , apresentamos três, especificamente: a família formadora de pessoas, educadora na fé, promotora do desenvolvimento:

      A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas que se caracteriza pela unidade e indissolubilidade.

       O Concílio Vaticano afirma que “a família recebeu de Deus a missão de constituir a célula primária e vital da sociedade”. Ela é o lugar privilegiado para a realização pessoal junto com os seres amados.

      Aí os pais devem criar um ambiente de família, que, animado pelo amor, pela piedade para com Deus e para com os seres humanos, promova uma educação integral, pessoal e social dos filhos.

      Nessa educação deve sobressair os valores de sua inteligência, vontade, consciência e fraternidade. Como fonte alimentadora desta educação acha-se em primeiro lugar a própria família.

      A família tem a grande missão de, pela educação, formar nos filhos um profundo sentido da dignidade pessoal e da liberdade como ser humano.

Pois é dessa consciência da dignidade da pessoa humana, que o cristão, o cidadão, poderá proclamar os direitos humanos. Pois tais direitos fundamentais, que a pessoa humana não pode renunciar anteriores a qualquer norma ou lei positiva, radicados na mesma dignidade de ser pessoa, têm sua fonte e origem no próprio Deus.

      Os esposos cristãos são para si mesmos, para seus filhos e demais familiares, cooperadores da graça e testemunhas da fé. São para seus filhos os primeiros pregadores e educadores da fé. “A família como “Igreja Doméstica”, deve acolher viver, celebrar e anunciar a Palavra de Deus”.

      Nesse sentido, ela é santuário onde se edifica a santidade, e a partir do qual a Igreja e o mundo podem ser santificados. Esta é a missão da família. Evangelizar a vida, as pessoas, a realidade familiar e a sociedade. Esta missão evangelizadora acontece quando os pais, não somente comunicam o Evangelho aos filhos, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido.

      E uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere. “A evangelização passa necessariamente pela família (...), pois, à medida que a família cristã abraça o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora”. Pois é na família que “se forja o futuro da humanidade e se concretiza a fronteira decisiva da nova Evangelização”.

      A família é a primeira e vital célula da sociedade. O Concílio Vaticano II apresenta a família como a primeira escola das virtudes sociais necessárias às demais sociedades. Nela os filhos fazem a primeira experiência de uma sã sociedade humana. É por ela que os filhos vão sendo introduzidos aos poucos na sociedade civil e na Igreja.

      Por sua natureza e vocação, ela deve ser promotora do desenvolvimento e protagonista de uma autêntica política familiar. Portanto, na família cristã, como Igreja Doméstica, os esposos se tornam co-criadores com Deus no que existe de mais nobre na criação: o Homem.

      Conforme o desígnio de Deus, a família é a primeira escola do ser humano em seus vários aspectos. Nela é afirmada a dignidade da pessoa humana.

      Por isso, o bem estar da pessoa e da sociedade humana está ligado estreitamente a uma situação favorável da comunidade conjugal familiar, pois esse bem-estar é um fator importantíssimo no desenvolvimento.

      No plano cristão e social, a família exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, pela vivência dos sacramentos, pelo testemunho de uma vida santa e pela caridade.

      O lar é em certo sentido a primeira escola de enriquecimento humano. É aí que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso, e, sobretudo o culto divino pela oração e oferenda da vida.

      Por outras palavras, a convivência cotidiana em família é o espaço primeiro para viver esta espiritualidade, procurando confrontar a própria vida com a vida e as opções de Jesus de Nazaré, que “passou fazendo o bem” (At 10,38), numa atitude de total abertura ao Pai e aos irmãos.


      Embebida nessa profunda comunhão com Cristo e com o Pai, e com os irmãos, a família passa a ser a promotora do respeito à dignidade e às diferenças das pessoas, passa a ser a formadora das pessoas, a educadora da fé e a promotora do desenvolvimento humano.

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