James Magalhães de Medeiros |
James Magalhães de Medeiros
Grupo Mãos Dadas – MFC Maceió
O
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que é
bom a gente deve partilhar, para que todos tenham oportunidade de conhecer, e
juntos possamos construir algo novo e diferente. É o que faço neste instante ao
repassar para o amigo, leitor e cidadão, parte do texto de Raquel de Queiroz, sob
o título: VOTAR, publicado na Revista O Cruzeiro, de 11 de janeiro de 1947, mas
que continua sendo luz para o momento atual: “Não sei se vocês têm meditado
como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama
governo democrático, ou governo do povo. Em política, a gente se desabitua de
tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais
do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu
sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar
representa o ato de fazer o governo. Pelo voto, não se serve a um amigo, não se
combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz
uma simpatia. Pelo voto, a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível,
o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo
de tempo. Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e
fazer leis novas – e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! (…)
Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior
ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é
grave a escolha desses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à
penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último
vintém do bolso...”
Continua
a articulista: “E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aqueles
que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem
aqueles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas
que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois, se a função emissora cai em
mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de
falsários. ... Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e
nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos
representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as
forças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. … Votando,
fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração
para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fossem. Entregamos a esses
homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de
guerra – e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento de
fidelidade. E tudo isso pode virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein
se virou contra o seu amo e criador.
E agora um conselho final, que pode
parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se
você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum
poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda
infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à
sua timidez. (…) Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de
quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral,
você depende e tem medo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL
VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à força, e escute apenas a
sua consciência. “Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca,
acompanha a gente até o inferno”.
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